|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HÁ 30 ANOS
Crimes mudaram pouco com o tempo
MAURICIO STYCER
da Reportagem Local
Dois dias depois da prisão do
Bandido da Luz Vermelha, em 7
de agosto de 1967, notícias de
crimes passionais, assaltos à
mão armada, tráfico de drogas,
furtos e golpes bem bolados disputavam espaço nos jornais
com a longa lista dos crimes
confessados por João Acácio Pereira da Costa.
Os assaltos já eram tão comuns naquela época, em São
Paulo, que mereciam um registro quase burocrático nos jornais, em pequenas notas de sete
ou oito linhas, no pé da página.
Trinta anos depois, quem consultar os mesmos jornais (Folha
e "Notícias Populares"), vai encontrar relatos de crimes muito
semelhantes aos de 1967, mas
com uma significativa diferença: hoje ganham um registro
quase burocrático na imprensa
os assassinatos cometidos na
periferia de São Paulo.
Sociólogos, antropólogos e estatísticos que estudam a criminalidade urbana se dizem incapazes de comparar a época de
ouro do Bandido da Luz Vermelha com a São Paulo de 1997.
Não há dados disponíveis ou,
quando existem, são considerados de qualidade duvidosa, sobre crimes, em São Paulo, em
1967. A Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) afirma dispor de dados relativos a 1971, mas sonega a sua
divulgação. "Achamos esses
dados não confiáveis e só divulgamos dados que consideramos
confiáveis", diz a assessora de
imprensa Virginia Ribeiro.
Dois dias após a prisão do
Bandido da Luz Vermelha, a notícia que rivalizava com ela em
importância era a do suicídio de
um jovem de 18 anos, ocorrido
três dias depois de ele ter assassinado a sua ex-noiva.
Trinta anos depois, os jornais
relatavam o caso do engenheiro
que matou a mulher, ginecologista, e se suicidou com um tiro
na boca, em Belo Horizonte. O
casal, aparentemente, vivia problemas conjugais.
"Gracejo" assassino
No dia 8 de agosto de 67, há 30
anos, um homem de 22 anos
matou com seis tiros um operário, no Jardim Peri (zona norte
de São Paulo), para revidar um
suposto "gracejo" dirigido à
mulher do criminoso.
No dia 8 de agosto de 97, 30
anos depois, um operário quase
morreu de tanto apanhar, no
Capão Redondo (zona sul de
São Paulo), após ser flagrado
tentando manter relações sexuais com uma jovem égua.
O tráfico de drogas, hoje considerado um crime comum, já
era bem conhecido na São Paulo
de 67. Um casal foi preso em flagrante, há 30 anos, com 11 mil
comprimidos de "Stenamina",
uma "bolinha" argentina.
A julgar pelos jornais de 67, as
pessoas acreditavam mais na
polícia do que hoje. O "Notícias
Populares" registra, com detalhes, a visita da atriz Vanja Orico
a uma delegacia paulistana, para
dar queixa sobre o desaparecimento de alguns pertences
-entre os quais, uma peruca-
deixados num táxi.
Os golpes e malandragens não
parecem variar muito com o
tempo. Em 67, um ladrão se fez
passar por interessado em obter
um emprego para tentar assaltar
um comerciante na avenida São
Luís, no centro de São Paulo.
Como hoje, o desfecho do assalto poderia ter sido trágico, já
que o comerciante teve a péssima idéia de reagir e levou um tiro. Por sorte, a bala só acertou a
sua mão. O assaltante foi preso.
Dois outros golpes mereceram
registro em 8 de agosto de 67: a
polícia prendeu em Salvador
dois sujeitos que vendiam taxímetros furtados e a polícia de
Cantagalo (MG) começava a caçar a pessoa que furtou os cabelos que ornamentavam a cabeça
de uma imagem de Cristo na
igreja matriz da cidade.
Em 97, a polícia tentava solucionar ou investigava os seguintes casos: uma recém-nascida foi
abandonada dentro de um saco
de supermercado, em Santo André; seis pessoas morreram em
duas chacinas, na periferia de
São Paulo; um PM foi preso com
209 impressoras roubadas; e
uma gangue formada por dois
homens e uma mulher grávida
que sequestrou o gerente de um
banco e o forçou a ajudá-los a
assaltar a agência.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|