São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997.



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HÁ 30 ANOS
Crimes mudaram pouco com o tempo

MAURICIO STYCER
da Reportagem Local

Dois dias depois da prisão do Bandido da Luz Vermelha, em 7 de agosto de 1967, notícias de crimes passionais, assaltos à mão armada, tráfico de drogas, furtos e golpes bem bolados disputavam espaço nos jornais com a longa lista dos crimes confessados por João Acácio Pereira da Costa.
Os assaltos já eram tão comuns naquela época, em São Paulo, que mereciam um registro quase burocrático nos jornais, em pequenas notas de sete ou oito linhas, no pé da página.
Trinta anos depois, quem consultar os mesmos jornais (Folha e "Notícias Populares"), vai encontrar relatos de crimes muito semelhantes aos de 1967, mas com uma significativa diferença: hoje ganham um registro quase burocrático na imprensa os assassinatos cometidos na periferia de São Paulo.
Sociólogos, antropólogos e estatísticos que estudam a criminalidade urbana se dizem incapazes de comparar a época de ouro do Bandido da Luz Vermelha com a São Paulo de 1997.
Não há dados disponíveis ou, quando existem, são considerados de qualidade duvidosa, sobre crimes, em São Paulo, em 1967. A Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) afirma dispor de dados relativos a 1971, mas sonega a sua divulgação. "Achamos esses dados não confiáveis e só divulgamos dados que consideramos confiáveis", diz a assessora de imprensa Virginia Ribeiro.
Dois dias após a prisão do Bandido da Luz Vermelha, a notícia que rivalizava com ela em importância era a do suicídio de um jovem de 18 anos, ocorrido três dias depois de ele ter assassinado a sua ex-noiva.
Trinta anos depois, os jornais relatavam o caso do engenheiro que matou a mulher, ginecologista, e se suicidou com um tiro na boca, em Belo Horizonte. O casal, aparentemente, vivia problemas conjugais.
"Gracejo" assassino
No dia 8 de agosto de 67, há 30 anos, um homem de 22 anos matou com seis tiros um operário, no Jardim Peri (zona norte de São Paulo), para revidar um suposto "gracejo" dirigido à mulher do criminoso.
No dia 8 de agosto de 97, 30 anos depois, um operário quase morreu de tanto apanhar, no Capão Redondo (zona sul de São Paulo), após ser flagrado tentando manter relações sexuais com uma jovem égua.
O tráfico de drogas, hoje considerado um crime comum, já era bem conhecido na São Paulo de 67. Um casal foi preso em flagrante, há 30 anos, com 11 mil comprimidos de "Stenamina", uma "bolinha" argentina.
A julgar pelos jornais de 67, as pessoas acreditavam mais na polícia do que hoje. O "Notícias Populares" registra, com detalhes, a visita da atriz Vanja Orico a uma delegacia paulistana, para dar queixa sobre o desaparecimento de alguns pertences -entre os quais, uma peruca- deixados num táxi.
Os golpes e malandragens não parecem variar muito com o tempo. Em 67, um ladrão se fez passar por interessado em obter um emprego para tentar assaltar um comerciante na avenida São Luís, no centro de São Paulo.
Como hoje, o desfecho do assalto poderia ter sido trágico, já que o comerciante teve a péssima idéia de reagir e levou um tiro. Por sorte, a bala só acertou a sua mão. O assaltante foi preso.
Dois outros golpes mereceram registro em 8 de agosto de 67: a polícia prendeu em Salvador dois sujeitos que vendiam taxímetros furtados e a polícia de Cantagalo (MG) começava a caçar a pessoa que furtou os cabelos que ornamentavam a cabeça de uma imagem de Cristo na igreja matriz da cidade.
Em 97, a polícia tentava solucionar ou investigava os seguintes casos: uma recém-nascida foi abandonada dentro de um saco de supermercado, em Santo André; seis pessoas morreram em duas chacinas, na periferia de São Paulo; um PM foi preso com 209 impressoras roubadas; e uma gangue formada por dois homens e uma mulher grávida que sequestrou o gerente de um banco e o forçou a ajudá-los a assaltar a agência.



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