São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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60% dos fumantes dizem ter começado antes dos 18

Pesquisas no Canadá mostram que a propaganda nos bares é um dos maiores estímulos

Na faixa dos 18 aos 24 anos, um quinto dos jovens fuma; entre os brasileiros de 35 e 59 anos, o percentual de fumantes sobe para 27%

DA REPORTAGEM LOCAL

Maria L. quer parar de fumar. Quer parar porque já não tem fôlego para jogar futebol e tênis. "É horrível não agüentar correr", diz. Ela conta que começou a fumar no meio de uma crise familiar que misturava a morte do avô, briga do pai com os irmãos e sintomas de crise de pânico. Bastaram três anos para seu fôlego se evaporar. Ela tem 14 anos e fuma desde os 11.
Estudante num colégio de elite em São Paulo, Maria L. talvez seja uma exceção por conhecer "todas as merdas que o cigarro causa", como ela diz. A pesquisa do Datafolha mostra que 60% dos fumantes começam a fumar até os 17 anos. Como Maria L., 8% dos fumantes entrevistados pelo Datafolha dizer ter iniciado o hábito quando tinham até 11 anos.
A venda de cigarros no Brasil é proibida para menores de 18 anos, mas é uma daqueles leis que não pegou.
Entre os adolescentes que tem 16 e 17 anos, 11% são fumantes. Na faixa etária que vai dos 18 a 24 anos, eles somam 21%. Juntos, os jovens de 16 a 24 anos correspondem a 22%, quase um quarto do total de fumantes do Brasil.
O cigarro incomoda adolescentes: 56% dos que têm de 12 a 17 anos já tentaram parar de fumar, de acordo com a pesquisa.
Duas faixas etárias concentram o maior percentual de fumantes, segundo o levantamento do Datafolha. Entre os que têm de 35 a 44 anos, 27% declaram-se fumantes. Na faixa que vai de 45 a 59, o percentual também é de 27%.
Ou seja, a maioria dos fumantes no Brasil nasceu entre 1948 e 1972. São os filhos da publicidade de cigarros sem limites, quando o produto era associado ao sucesso, aos esportes e ao sexo no cinema e na TV. Os comerciais foram banidos da televisão em janeiro de 2001 por determinação do Ministério da Saúde.
Paula Johns, diretora da ACT (Aliança de Controle ao Tabagismo), uma organização que congrega cerca de 40 entidades, diz que "menos jovens estão começando a fumar por causa das imagens nos maços, do fim da publicidade e da redução da aceitação social".
Segundo ela, pesquisas no Canadá mostraram que a propaganda nos bares que vendem cigarro é um dos maiores estímulos para a iniciação do adolescente. O jovem se identifica com a marca, diz Johns, porque ela está associada a um estilo de vida. Ela defende o fim desse tipo de publicidade no Brasil.
A redução da aceitação social acaba por ser a porta de entrada dos rebeldes, que fumam para contrariar o senso comum.
A estudante Maria L. diz que já foi atraída por esse lado rebelde do cigarro. "Adolescente adora tudo que é do contra. Também já achei que podia parar a hora em que quisesse".
Agora, ela diz saber que não é bem assim. "Já tentei parar quatro vezes e não consegui. Não consigo lidar com os meus problemas. Acho que deviam falar de cigarro na escola, mas sem dar lição de moral, que é muito chato. Hoje eu sei que cigarro só faz mal. Quero parar porque não tenho fôlego", conta, num jorro.
O levantamento do Datafolha confirma que adolescente tem síndrome de Super-Homem no que se refere ao cigarro e acha que pára de fumar quando quiser. Só 46% dos que têm 16 e 17 anos se consideram viciados em cigarros. Na faixa etária de 35 a 44 anos, essa taxa chega a 69%.(MCC)

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