|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
60% dos fumantes dizem ter começado antes dos 18
Pesquisas no Canadá mostram que a propaganda nos bares é um dos maiores estímulos
Na faixa dos 18 aos 24 anos, um quinto dos jovens fuma; entre os brasileiros de 35 e 59 anos, o percentual de fumantes sobe para 27%
DA REPORTAGEM LOCAL
Maria L. quer parar de fumar.
Quer parar porque já não tem
fôlego para jogar futebol e tênis. "É horrível não agüentar
correr", diz. Ela conta que começou a fumar no meio de uma
crise familiar que misturava a
morte do avô, briga do pai com
os irmãos e sintomas de crise
de pânico. Bastaram três anos
para seu fôlego se evaporar. Ela
tem 14 anos e fuma desde os 11.
Estudante num colégio de
elite em São Paulo, Maria L. talvez seja uma exceção por conhecer "todas as merdas que o
cigarro causa", como ela diz. A
pesquisa do Datafolha mostra
que 60% dos fumantes começam a fumar até os 17 anos. Como Maria L., 8% dos fumantes
entrevistados pelo Datafolha
dizer ter iniciado o hábito
quando tinham até 11 anos.
A venda de cigarros no Brasil
é proibida para menores de 18
anos, mas é uma daqueles leis
que não pegou.
Entre os adolescentes que
tem 16 e 17 anos, 11% são fumantes. Na faixa etária que vai
dos 18 a 24 anos, eles somam
21%. Juntos, os jovens de 16 a
24 anos correspondem a 22%,
quase um quarto do total de fumantes do Brasil.
O cigarro incomoda adolescentes: 56% dos que têm de 12 a
17 anos já tentaram parar de fumar, de acordo com a pesquisa.
Duas faixas etárias concentram o maior percentual de fumantes, segundo o levantamento do Datafolha. Entre os
que têm de 35 a 44 anos, 27%
declaram-se fumantes. Na faixa
que vai de 45 a 59, o percentual
também é de 27%.
Ou seja, a maioria dos fumantes no Brasil nasceu entre
1948 e 1972. São os filhos da publicidade de cigarros sem limites, quando o produto era associado ao sucesso, aos esportes e
ao sexo no cinema e na TV. Os
comerciais foram banidos da
televisão em janeiro de 2001
por determinação do Ministério da Saúde.
Paula Johns, diretora da ACT
(Aliança de Controle ao Tabagismo), uma organização que
congrega cerca de 40 entidades, diz que "menos jovens estão começando a fumar por
causa das imagens nos maços,
do fim da publicidade e da redução da aceitação social".
Segundo ela, pesquisas no
Canadá mostraram que a propaganda nos bares que vendem
cigarro é um dos maiores estímulos para a iniciação do adolescente. O jovem se identifica
com a marca, diz Johns, porque
ela está associada a um estilo de
vida. Ela defende o fim desse tipo de publicidade no Brasil.
A redução da aceitação social
acaba por ser a porta de entrada
dos rebeldes, que fumam para
contrariar o senso comum.
A estudante Maria L. diz que
já foi atraída por esse lado rebelde do cigarro. "Adolescente
adora tudo que é do contra.
Também já achei que podia parar a hora em que quisesse".
Agora, ela diz saber que não é
bem assim. "Já tentei parar
quatro vezes e não consegui.
Não consigo lidar com os meus
problemas. Acho que deviam
falar de cigarro na escola, mas
sem dar lição de moral, que é
muito chato. Hoje eu sei que cigarro só faz mal. Quero parar
porque não tenho fôlego", conta, num jorro.
O levantamento do Datafolha confirma que adolescente
tem síndrome de Super-Homem no que se refere ao cigarro e acha que pára de fumar
quando quiser. Só 46% dos que
têm 16 e 17 anos se consideram
viciados em cigarros. Na faixa
etária de 35 a 44 anos, essa taxa
chega a 69%.(MCC)
Texto Anterior: 83% dos fumantes dizem que gostariam de parar Próximo Texto: Brasil perde 3,6 milhões de adeptos ao cigarro desde 2002 Índice
|