São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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MARIA INÊS DOLCI

Por uma melhor idade


O Brasil, com crescente percentual de idosos, não trata bem as crianças nem os que passaram dos 60 anos

O JOVEM QUE ATENDIA no balcão de um restaurante do shopping mal disfarçava a irritação com o cliente, idoso, que tinha dificuldade para ler as letras miúdas do cardápio. E que, na hora de pagar com cartão de débito, errou duas vezes a senha.
Essa cena, verídica, reflete um confronto que já se manifesta no Brasil: país com ampla maioria de jovens, mas com crescente percentual de idosos, não trata bem as crianças nem os que já passaram dos 60 anos.
Os que acabaram de sair das fraldas perambulam pelos semáforos, sem qualquer ação dos governantes, explorados por pais e "tios", que lhes roubam a infância e os submetem aos riscos de aprender nas ruas, em lugar dos bancos escolares.
E os mais velhos são vistos como estorvo pelos familiares e pelas instituições -lembrem-se de que o ex-ministro da Previdência e atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, queria convocar aposentados octogenários para confirmar, nas agências do INSS, seu direito ao benefício. O Estatuto do Idoso é uma peça legal bem razoável, mas as leis não mudam a cabeça das pessoas. Todos nós temos de nos preparar para conviver, respeitar e valorizar os mais velhos.
Como consumidor, o senhor e a senhora da chamada terceira idade também são tratados com, no mínimo, impaciência. Lojas, restaurantes, hotéis e transportes coletivos devem exigir, dentre os critérios para contratação de pessoal, o respeito pelos idosos.
E cobrar este comportamento diariamente, dando o exemplo, com a criação de filas especiais, horários alternativos e outras "janelas" de atendimento para essa clientela tão importante.
Os governos também poderiam ser mais conscientes, trocando os empréstimos consignados -uma forma de endividar os aposentados em vez de aumentar suas aposentadorias e pensões- por uma reforma previdenciária digna desse nome. Que deveria iniciar pelo fim dos privilégios de algumas castas, como a dos políticos.
Também não se melhora a qualidade de vida de idosos estimulando-os a fazer turismo via papagaios bancários. Sem renda, empréstimos são formas de empurrar com a barriga a falência financeira.
Pois bem, todos os que não morrermos precocemente, ficaremos idosos. E, com o aumento da longevidade, isso pode significar mais de 90 anos.
Mas enquanto a medicina nos anima com novas conquistas contra as doenças, não há qualquer estímulo fiscal para que os planos de saúde mantenham os valores das mensalidades dos que se tornarem idosos.
Se os custos dos planos aumentam por fatores biológicos que a longevidade traz, é natural que haja políticas compensatórias para que os da terceira idade não sejam onerados por isso.
Também é preciso acelerar e ampliar os programas que ofertem medicamentos gratuitamente ou a preços suportáveis por aposentados e pensionistas.
Sem isso, de que adiantará, contudo, viver muito para sofrer mais, com péssima qualidade de vida?


NA INTERNET
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br



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