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Crianças moem giz e brincam de traficante
Alunos com idade entre nove e dez anos de escola pública em Sapucaia do Sul (RS) simulam venda de drogas durante o recreio
Com 123 mil habitantes, município é um dos mais violentos do Estado; a taxa de homicídios da cidade em 2008 superou média estadual
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Crianças da quarta série de
uma escola pública de Sapucaia
do Sul (região metropolitana de
Porto Alegre) usaram pó de giz
para fingir serem traficantes e
consumidores de cocaína durante brincadeira no recreio.
A brincadeira, que provocou
apreensão no setor de educação
da cidade, consistia em simular
a venda de drogas em sala de aula e foi descoberta na semana
passada por uma professora.
No lugar da droga, saquinhos
plásticos eram enchidos com pó
de giz. Os quatro alunos, com
idade entre nove e dez anos, que
participavam da brincadeira foram encaminhados à orientação pedagógica.
"As crianças não medem as
consequências. Conversamos
com eles sobre o significado do
que estavam fazendo, se era
aquilo que queriam da vida.
Eles se surpreenderam", contou Inacira Lopes, diretora da
escola Getúlio Vargas.
Segundo ela, a escola participa do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas
e à Violência) da Brigada Militar
do Estado, em que policiais desenvolvem ações de prevenção
com os estudantes.
Com cerca de 700 alunos, a
escola fica em uma região pobre
e de ocupações irregulares.
As cerca de 5.000 pessoas que
vivem no local não têm acesso a
serviços básicos e, segundo a Brigada Militar, há trafico de drogas
nos bairros próximos à escola.
A diretora disse não ver relação direta entre as condições sociais da região e o episódio. "Não
é porque as pessoas são pobres
que serão violentas. Essa cultura
de violência é incentivada em filmes e em jogos de videogame."
Discussão
A simulação de tráfico pelas
crianças vai ser discutida nas
demais escolas da cidade, que
participarão em novembro de
uma conferência municipal de
prevenção ao uso de drogas.
"É um episódio que, apesar
de isolado, faz parte de um contexto maior, que é o do vício em
drogas", disse o secretário municipal da Educação, Adílpio
Zandonai. Segundo ele, o episódio é um alerta para reforçar
ações de segurança preventiva.
Com 123 mil habitantes, Sapucaia do Sul é um dos municípios mais violentos do Estado.
A taxa de homicídios da cidade em 2008 (19,6 mortes por
100 mil habitantes) superou a
média estadual (16,4). O município ocupa neste ano a 12ª colocação no número de homicídios entre as 496 cidades gaúchas, com 24 casos - mesmo
número de todo o ano de 2008.
Segundo Zandonai, o Pronasci (Programa Nacional de
Segurança Pública e Cidadania), do Ministério da Justiça,
disponibilizou R$ 140 mil para
realização de oficinas de música, arte e esporte na cidade.
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