São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

OPINIÃO

Infraestrutura precária dos aeroportos do país não é novidade para ninguém

MARIA INÊS DOLCI
COLUNISTA DA FOLHA

Os problemas nos aeroportos brasileiros lembram, pela inação frente ao inevitável, o realismo fantástico do livro "Crônica de uma Morte Anunciada", de Gabriel García Márquez.
Para quem não se lembra, o livro trata de um assassinato por vingança do qual toda uma localidade ficou sabendo antes. Mas nada foi feito para evitá-lo.
Quantas pistas mais seriam necessárias para saber que os aeroportos brasileiros não têm estrutura suficiente para o aumento do número de passageiros? Quem nunca teve bagagem extraviada em voos nacionais ou internacionais chegando ou partindo do Brasil? Ou soube de um caso assim?
Houve um simulacro de medidas para reduzir a crise ocorrida após o choque entre o jato Legacy e um Boeing da Gol, em setembro de 2006.
Mas a má gestão continuou impávida. Um dos complicadores é a sobreposição de autoridades na área. Infraero, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) dividem responsabilidades.
Unificar o sistema seria fundamental.
Faltam, também, investimento, gestão e fiscalização. O duopólio de mercado TAM e Gol presta serviços medíocres, desrespeita passageiros e não há sinais de melhoria no quadro.
Estas companhias aéreas parecem fazer o que querem. De vez em quando, levam um ou outro pito da Anac. É muito pouco.
Prevalece, nos aeroportos, a metodologia marqueteira que faz sucesso no Brasil nos últimos oito anos: afirma-se que tudo está bem, então está bem, e ponto final.
Atrasos e cancelamentos de voos ocorrem com irritante frequência, sem que haja razão forte como as nevascas na Europa neste mês de dezembro.
Em alguns destes episódios, as justificativas foram as escalas dos tripulantes.
O resultado é que viajar de avião, para nós, brasileiros, é sinônimo de longas filas, eventuais atrasos, desconforto e desrespeito.
Se não houver uma mudança da água para o vinho na gestão dos aeroportos, teremos grandes dificuldades nos dois megaeventos que sediaremos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíada de 2016.
Ninguém cruzará o mundo para mofar enquanto espera seu voo. As reformas, ajustes, melhorias já deveriam ter começado. A mudança mais necessária, contudo, é administrativa.
Incompetência não combina com infraestrutura aeroportuária. Passageiros são consumidores que merecem serviços de qualidade. Retórica política e ataques aos críticos não vão melhorar o transporte aéreo.


Texto Anterior: Passageiro antecipa voo e check-in com medo de caos
Próximo Texto: Pasquale Cipro Neto: "Não vou narrar, não vou narrar..."
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.