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Servidora relata três conversas com vice-prefeito
DA REPORTAGEM LOCAL
A arquiteta Izildinha Araújo,
hoje lotada na Secretaria das Subprefeituras, disse, no depoimento
ao qual a Folha teve acesso, que
falou pelo menos três vezes ao telefone com o vice-prefeito Hélio
Bicudo por causa das ordens de
embargo e desembargo do prédio
da Cesp. Em uma delas, segundo
sua versão, ela ligou para Bicudo,
em Vinhedo (85 km de SP), onde
o vice-prefeito tem uma casa.
O depoimento foi dado em 25
de agosto de 2003 ao delegado
Luiz Antônio Rebello, então assistente de apuração da Ouvidoria
do Município, que investigava suposta cobrança de propina durante as obras do condomínio.
Em 9 de outubro, o promotor
Mário Augusto Vicente Malaquias, de Habitação e Urbanismo,
solicitou ao ouvidor "cópia integral do procedimento administrativo instaurado". Nos autos
que chegaram à Promotoria, porém, faltavam 65 das 287 folhas
-que são numeradas.
A falha foi identificada, e o promotor Sérgio Turra, da Cidadania, que pedira cópia do processo
à Habitação, solicitou as folhas
que faltavam à prefeitura.
Entregues, 61 delas consistiam
em simples anotações de tramitação do caso e de convocação de
depoentes. O único depoimento
que faltava era exatamente o da
servidora que citava Bicudo.
A Ouvidoria justifica o procedimento dizendo que, na ocasião do
pedido do promotor, ainda não
havia procedimento administrativo aberto e que, como remeteu à
Promotoria cópia de sua apuração sigilosa, mandou apenas "as
peças principais, que diziam respeito à fiscalização". No procedimento sigiloso, porém, a ação de
Bicudo nunca foi investigada.
"Ganhar tempo"
Nas folhas inicialmente sumidas
a servidora conta que as pressões
para que as obras fossem embargadas começaram em maio de
2001, quando ela era assessora de
gabinete da AR-Sé, com telefonemas vindos da Emurb. Na ocasião, ela diz ter feito duas visitas às
obras, mas, sem a documentação
do caso, não teria conseguido localizar nenhuma irregularidade.
Em junho de 2001, já no cargo
de supervisora de Uso e Ocupação do Solo da AR-Sé, que acabara de assumir, ela diz ter recebido
dois telefonemas de Bicudo.
Nas ligações, segundo o relato
da servidora, o vice-prefeito "solicitou o embargo da referida obra,
alegando, para tanto, que necessitava ganhar tempo para conversar com o governo do Estado visando o parcelamento de uma indenização que a prefeitura lhe devia em virtude de desapropriação
ocorrida no local da obra". O embargo, segundo a seqüência do
depoimento de Araújo, serviria
para "forçar uma composição
mais vantajosa à prefeitura".
A servidora seguiu a determinação. Cumprida a missão, ela afirma ter ligado para a casa de Bicudo, em Vinhedo, comunicando a
ele as providências. Dias depois,
segundo ela, foi Bicudo quem telefonou à AR-Sé dizendo que já
atingira seus objetivos, iniciando
conversações que levariam a uma
redução substancial da indenização devido pelo município.
Esse último contato, porém, teria sido feito com Clara Ant, administradora regional na época,
que transmitiu à servidora a ordem de desembargo da obra. A
certidão que baseou a liberação
foi, então, providenciada pela
própria administração.
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