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URBANIDADE
O mau aluno que virou mestre
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
O chinês Jou Eel Jia tirou
proveito de seus traumas
infantis para ensinar, em São
Paulo, como acalmar crianças.
Quando era menino e morava
na China, ele tanto atenazou os
pais e os professores com sua hiperatividade que acabou aos cuidados de mestres budistas, donos de
uma ilimitada paciência. Viu-se
obrigado a praticar diariamente
vagarosas artes marciais e meditação. Para completar a terapia,
quando chegava o boletim com as
péssimas notas, Jou recebia a não
menos milenar técnica do cascudo. "Ninguém sabia que eu tinha
uma doença."
Veio morar no Brasil, onde se
formou em medicina e aprendeu
nos livros -e no divã do analista- que aquela inquietude tinha
raízes em disfunções neurológicas. Continuou socorrendo-se das
técnicas respiratórias que conheceu nos templos. O travesso aluno
passou em primeiro lugar no vestibular, tornou-se clínico-geral
pela Universidade Federal de São
Paulo e resolveu especializar-se
em medicina chinesa. Virou um
dos badalados acupunturistas
brasileiros. Desde a semana passada, ele é também mestre em sossegar alunos.
Na quinta-feira, foram diplomados 3.000 professores de educação física da rede estadual para
dar aulas de lien ch'i, uma ginástica baseada no ritmo dos animais. A idéia pegou porque Jou,
além de propor-se a treinar voluntariamente professores, tem
pacientes influentes -mais precisamente, o governador Geraldo
Alckmin- e estava ancorado
num projeto piloto que conduziu
em cinco escolas da cidade de São
Paulo. Constatou-se que as crianças submetidas ao lien ch'i ficaram mais tranqüilas em sala de
aula, segundo a educadora Luzia
Lima, da Unicamp, responsável
pela avaliação da experiência.
Escolas são apenas um começo.
"Gostaria de ver em praças
e parques gente praticando
esse tipo de exercício, que favorece
o equilíbrio emocional",
sonha Jou.
Nem é tão sonho assim. O lien
ch'i já existe, gratuitamente, nos
parques Ibirapuera e Villa-Lobos
e, ainda neste semestre, vai para o
parque da Juventude, antigo Carandiru. Prepara-se para um dos
testes ainda mais
desafiadores: entrar na Febem,
onde alguns dos internos fazem o
menino Jou parecer um
exemplo de serenidade e bom
comportamento.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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