São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2000


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SAÚDE
Campanha publicitária, a mais dura já lançada no país, vai colocar o fumo no mesmo nível das drogas ilegais
Governo inicia ofensiva contra o cigarro

Reprodução
Outdoors da nova campanha do governo contra o fumo


FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor do Painel

O governo federal inicia depois de amanhã a mais dura campanha publicitária contra o consumo de cigarro já realizada no país. Idealizada pelo Ministério da Saúde, a campanha tem dois objetivos relacionados. Primeiro, sensibilizar a população para os males do fumo, colocando-o pela primeira vez, e sem eufemismos, em pé de igualdade com as drogas ilegais; e, segundo, preparar o terreno para o projeto de lei que o Executivo pretende enviar ao Congresso, propondo a proibição da propaganda de cigarro no país.
O ministro da Saúde, José Serra, esteve reunido ontem à tarde com o presidente Fernando Henrique Cardoso para definir detalhes da ofensiva do governo contra a propaganda e o consumo do cigarro.
Ainda não ficou decidido se o governo optará pela proibição total da propaganda do fumo ou se permitirá que as empresas fabricantes de cigarro continuem patrocinando eventos culturais e esportivos, como já ocorre hoje.
O governo está estudando as legislações sobre o assunto em vários países. O Ministério da Saúde é simpático à fórmula mais restritiva, a exemplo do que já adotam países como Austrália, Finlândia, Bélgica, Canadá, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Suécia e Turquia, entre outros. FHC, no entanto, pediu alguns dias para estudar melhor o assunto.
Enquanto não se decide sobre o teor exato do projeto de lei, o governo concentra sua ação antifumo na campanha publicitária que começa a ser veiculada em TVs, rádios, revistas, jornais e outdoors na sexta-feira. O custo total da campanha é de R$ 4,5 milhões, sendo R$ 2,4 milhões para a TV. A principal peça exibe um suposto traficante de drogas encapuzado sendo entrevistado por um repórter. O diálogo entre os dois é o seguinte:
Repórter: Cacau do Pó, pra você como seria a propaganda de drogas pesadas?
Cacau do Pó: Bom, a propaganda poderia ter um monte de gente bonita, lugares exóticos, só a moçada sarada. Pessoas praticando esporte, pra dar a impressão de que droga não vicia e não faz mal. Aí, as pessoas se sentem bem em ver coisas bonitas e experimentam. Daí vicia, ahahaha, aí dançou!
Repórter: Qualquer semelhança com a propaganda de cigarro não é mera coincidência. O cigarro é droga, vicia e mata.
Segue o slogan geral da campanha: "Cigarro faz mal até na propaganda".
A Folha apurou que a peça publicitária, feita pela agência Master, foi considerada forte até por assessores do Ministério da Saúde. José Serra decidiu bancá-la sem retoques. Mandou apenas que o sotaque "carioca" do traficante fosse trocado por outro, menos definido, a fim de evitar ataques como o que sofreu recentemente, quando foi acusado de promover o racismo por exibir uma mulher negra em campanha pela prevenção à Aids.
Todas as peças da campanha procuram desmontar os supostos truques das propagandas de cigarro e todas insistem no fato de que cigarro é droga. Numa delas, que imita a propaganda de uma marca famosa, pergunta-se: "Sabe aquele cowboy da propaganda de cigarro?. Morreu de câncer". O fato é verídico. O ator Wayne MCLaren, o "cowboy", morreu de câncer de pulmão em 1992, aos 51 anos de idade.
Depois da ofensiva pelos remédios genéricos, a campanha contra o cigarro deve se tornar o carro-chefe da atuação da Saúde.


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