São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Ouvidor vê falha de promotores

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público, responsável por encaminhar para julgamento os policiais envolvidos em homicídios, não está cumprindo seu papel, segundo Fermino Fecchio, ouvidor da polícia paulista.
Levantamento feito pela Ouvidoria mostra que, de 104 inquéritos sobre policiais militares que praticaram 142 homicídios em 1999, 38,7% não foram levados a julgamento. Os policiais civis cometeram menos homicídios (34), mas a proporção de casos que não foram julgados é maior -43,4%.
"O Ministério Público não examina os casos de policiais envolvidos em homicídios com o cuidado devido", diz Fecchio. "A omissão não é só da polícia, que investiga muito mal. Em caso de roubo seguido de morte, os promotores só investigam o roubo. É gravíssimo", qualifica o ouvidor.
Casos de resistência seguida de morte tornaram-se uma "aberração jurídica", segundo a advogada Isabel Figueiredo, assessora da Ouvidoria e autora do levantamento. No caso hipotético de uma dupla de assaltantes em que um deles é morto pela polícia, os promotores encaminham o sobrevivente para o Tribunal do Júri, que julga o assalto, mas o policial que cometeu o homicídio não é julgado, diz ela. Por isso, a Ouvidoria propõe o fim da categoria resistência seguida de morte.

Outro lado
O procurador-geral de Justiça do Estado, Luiz Antônio Guimarães Marrey, diz que não dá para tirar nenhuma conclusão a partir do levantamento da Ouvidoria: "Não dá para dizer que os promotores são tolerantes com os policiais quando 60% dos casos são encaminhados a julgamento".
Para ele, cada inquérito tem de ser analisado individualmente. "Em uma série de casos o promotor entende que o policial agiu em legítima defesa ou de modo legal."
Marrey afirma que o Ministério Público deve dar "uma atenção especial" ao aumento de mortes de civis em confrontos com a polícia: "A repressão não pode levar a condutas ilegais. O Ministério Público não aceita isso".


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