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Bares da Augusta montam "campana" contra fiscais do Psiu
De madrugada, eles baixam portas à meia altura e põem
"olheiros'; "parece camelô fugindo do rapa", diz cliente
Rodrigo Paiva/ Folha Imagem
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O bar 24 Horas, na rua Augusta, com porta gradeada à meia altura, tática para funcionar após a 1h |
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
No último fim de semana, a
região central conhecida como
Baixo Augusta voltou a ficar
cheia de gente nas calçadas. Isso porque os botecos reagiram
ao Psiu (Programa de Silêncio
Urbano) e voltaram a funcionar
na madrugada. Para isso, criaram uma tática: recolhem mesas, baixam portas até meia altura e põem funcionários de
"campana" na entrada. Caso a
fiscalização apareça, fecham.
"Parece camelô fugindo do
rapa", diz Luana Viana, 22, estudante da USP e frequentadora do Bar do Netão, que tem ao
fundo uma pista de dança e cuja
entrada é livre. "É muita lei para a minha cabeça. Assim, isso
aqui vai virar o Bar Secreto..."
Há 15 dias, o Psiu, que atua
contra a poluição sonora, pegou o "vácuo" do início da lei
antifumo e re-intensificou sua
atuação. Quem quiser funcionar após a 1h tem que ter porta
de vidro, tratamento acústico,
convênio com estacionamento
e segurança na entrada.
Silva Neto Irineu, dono do
Bar do Netão, confirma que a
fiscalização ficou mais intensa
após a nova lei e diz que já está
correndo atrás das exigências.
Até agora, afirma, já gastou
R$ 6.000 e vai gastar mais
R$ 4.000, mas, enquanto não
recebe a porta nova, diz não ter
opção a não ser funcionar depois da 1h. "Já amarguei prejuízo de 50%. Se eu fizer o mesmo
hoje [sábado], não pago funcionários nem fornecedores."
Questionado se não tinha
medo de ter o bar lacrado, Irineu diz que, se fecharem, terá
de recorrer na Justiça.
Outro bar ficou descaracterizado até no nome: o 24 Horas,
que tem mesas de sinuca. Agora, segundo o balconista José
Gomes, 42, fecha à 1h. No entanto, também usou a tática da
vigília. Às 3h30 ainda estava
atendendo. "Temos tido prejuízo de mais de R$ 1.000 por noite", afirma Gomes.
O Bar Ibotirama é um dos
que respeita a lei, mas já foi
multado e lacrado. Mesmo assim, o gerente Arcenio Miranda
Silva reclama. Segundo ele, o
bar, que também funciona durante o dia, perde o horário
mais lucrativo, em que são comercializados bebidas e cigarros. "Primeiro foi o Psiu. Agora
a lei antifumo tirou mais 30%
dos meus clientes."
O DJ Gil Riquerme, não fumante, ficou duas semanas sem
tocar na festa Posh. Ele acha
que a ação conjunta descaracteriza os botecos. "A lei antifumo joga os fumantes na rua e o
Psiu completa o serviço mandando todo mundo para casa.
Parece toque de recolher. Esses
bares são os mais apropriados
para quem fuma. Você entra e
sai quando quiser. O boteco não
faz do cliente seu refém."
Ele e o amigo André LaFace
ironizam o Psiu no panfleto de
divulgação da festa: "A noite dura até a hora que alguém lacrar."
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