São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Bares da Augusta montam "campana" contra fiscais do Psiu

De madrugada, eles baixam portas à meia altura e põem "olheiros'; "parece camelô fugindo do rapa", diz cliente

Rodrigo Paiva/ Folha Imagem
O bar 24 Horas, na rua Augusta, com porta gradeada à meia altura, tática para funcionar após a 1h


JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO

No último fim de semana, a região central conhecida como Baixo Augusta voltou a ficar cheia de gente nas calçadas. Isso porque os botecos reagiram ao Psiu (Programa de Silêncio Urbano) e voltaram a funcionar na madrugada. Para isso, criaram uma tática: recolhem mesas, baixam portas até meia altura e põem funcionários de "campana" na entrada. Caso a fiscalização apareça, fecham.
"Parece camelô fugindo do rapa", diz Luana Viana, 22, estudante da USP e frequentadora do Bar do Netão, que tem ao fundo uma pista de dança e cuja entrada é livre. "É muita lei para a minha cabeça. Assim, isso aqui vai virar o Bar Secreto..."
Há 15 dias, o Psiu, que atua contra a poluição sonora, pegou o "vácuo" do início da lei antifumo e re-intensificou sua atuação. Quem quiser funcionar após a 1h tem que ter porta de vidro, tratamento acústico, convênio com estacionamento e segurança na entrada.
Silva Neto Irineu, dono do Bar do Netão, confirma que a fiscalização ficou mais intensa após a nova lei e diz que já está correndo atrás das exigências.
Até agora, afirma, já gastou R$ 6.000 e vai gastar mais R$ 4.000, mas, enquanto não recebe a porta nova, diz não ter opção a não ser funcionar depois da 1h. "Já amarguei prejuízo de 50%. Se eu fizer o mesmo hoje [sábado], não pago funcionários nem fornecedores."
Questionado se não tinha medo de ter o bar lacrado, Irineu diz que, se fecharem, terá de recorrer na Justiça.
Outro bar ficou descaracterizado até no nome: o 24 Horas, que tem mesas de sinuca. Agora, segundo o balconista José Gomes, 42, fecha à 1h. No entanto, também usou a tática da vigília. Às 3h30 ainda estava atendendo. "Temos tido prejuízo de mais de R$ 1.000 por noite", afirma Gomes.
O Bar Ibotirama é um dos que respeita a lei, mas já foi multado e lacrado. Mesmo assim, o gerente Arcenio Miranda Silva reclama. Segundo ele, o bar, que também funciona durante o dia, perde o horário mais lucrativo, em que são comercializados bebidas e cigarros. "Primeiro foi o Psiu. Agora a lei antifumo tirou mais 30% dos meus clientes."
O DJ Gil Riquerme, não fumante, ficou duas semanas sem tocar na festa Posh. Ele acha que a ação conjunta descaracteriza os botecos. "A lei antifumo joga os fumantes na rua e o Psiu completa o serviço mandando todo mundo para casa. Parece toque de recolher. Esses bares são os mais apropriados para quem fuma. Você entra e sai quando quiser. O boteco não faz do cliente seu refém."
Ele e o amigo André LaFace ironizam o Psiu no panfleto de divulgação da festa: "A noite dura até a hora que alguém lacrar."


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