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País não tem dados sobre intoxicações
Para especialistas, falta de regulamentação para material escolar e de canal para reclamação dificulta a contabilidade
Projeto que tramita no Congresso prevê criação de registro nacional nos hospitais para mapear esse tipo de acidente
DE SÃO PAULO
O controle do número de
intoxicações ou acidentes
envolvendo crianças e o uso
de material escolar no país é
praticamente inexistente.
Não há registros oficiais.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a falta de
uma regulamentação do setor e de um canal específico
para que os pais registrem as
reclamações dificulta a contabilidade de casos e o gerenciamento dos riscos.
Rosany Bochner, coordenadora do Sistema Nacional
de Informações Tóxico-Farmacológicas da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz),
diz que esses acidentes são
contabilizados na categoria
"outros" porque não existe
um item específico para eles.
Ela pondera, porém, que
os casos não podem ser desprezados. "Crianças pequenas têm muito contato com
tintas. Esse produto, em contato com a pele, pode desencadear uma intoxicação."
Para Bochner, a certificação compulsória do material
é importante porque "trará
mais tranquilidade" aos pais
na hora de comprar.
"As pessoas confiam no
que o fabricante escreve na
embalagem. Mas, sem passar
por um teste oficial, quem garante que aquele produto é
realmente inócuo?", diz, ao
exemplificar intoxicações
provocadas por tintas.
CONSUMIDOR
Robson Campos, diretor
de atendimento do Procon-SP, elogia a iniciativa do Inmetro e diz que o Código de
Defesa do Consumidor tem
capítulos exclusivamente dedicados para garantir a qualidade e a segurança e avaliar
riscos dos produtos à saúde.
Campos explica que o código diz que os produtos devem estar de acordo com as
normas, mas, até então, não
existiam normas claras para
essa categoria -o que impedia a fiscalização e dificultava as reclamações.
"O consumidor desconhece os seus direitos. A simples
falta de informação sobre a
faixa etária indicada para determinado produto pode fazer toda a diferença. Ele deixa de ser seguro e passa a ser
perigoso", afirma.
Segundo Polyanna Carlos
da Silva, advogada da Proteste (Associação Brasileira
de Defesa do Consumidor),
há um projeto de lei na Câmara dos Deputados que pede a criação de um registro
nacional nos hospitais para
mapear esse tipo de acidente.
"Se uma criança se intoxica e dá entrada no hospital,
ela é contabilizada como acidente comum, e não como
acidente de consumo [ligado
a algum produto]", diz.
Ela ressalta que os pais devem reportar qualquer tipo
de problema ao fabricante e
aos órgãos de defesa do consumidor. "Só assim será possível solicitar um recall", diz.
(FERNANDA BASSETTE)
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