São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Empregada tenta há 3 dias registrar sumiço do filho, deficiente auditivo

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A empregada doméstica Maria Aparecida Silva, 56, tenta, desde o último domingo, registrar um boletim de ocorrência após o desaparecimento do filho, um deficiente auditivo de 17 anos. Depois de ter passado por duas delegacias, na periferia da zona sul, ela desistiu de recorrer aos policiais civis, em greve há oito dias, e resolveu sair sozinha à procura do rapaz.
Com uma foto 3x4 do filho Gustavo Pascoal da Silva nas mãos, ela foi no próprio domingo na delegacia mais perto de sua casa, no Campo Limpo. "No 37º DP, um delegado disse que estava em greve e me mandou procurar a internet. Mas eu não sei nem o que é isso", disse.
Na segunda-feira, ela buscou informações sobre o rapaz em hospitais, escolas e bares. Sem sucesso, voltou à polícia ontem. Foi ao 11º DP de Santo Amaro, cujos policiais também estão em greve, e de novo não foi atendida. Dessa vez, eles disseram que não iriam registrar a ocorrência lá, porque o menino sumiu em outro bairro -Campo Limpo, a 10 km do DP (Distrito Policial). "No 11º DP, falaram que o sumiço dele foi perto do 37º e eu deveria voltar lá e fazer o boletim de ocorrência".
Desde o início da greve, policiais civis têm feito apenas ocorrências graves-roubos e homicídios. Em casos de furto ou desaparecimento, a orientação é para que a vítima registre a queixa na internet.
A paralisação afeta mais as delegacias da periferia e do interior do Estado, já que os delegados de DPs de regiões mais centrais temem aderir ao movimento e serem transferidos.
Sem celular ou telefone em casa, Maria Aparecida diz ter já "tomado umas 20 lotações" em busca de Gustavo. Para a mãe, o rapaz não teria motivos para fugir da casa, numa favela, onde mora com ela e dois irmãos.
"Ele já ficou fora de casa um dia, mas voltou. Mas agora é diferente. Estava feliz. Acho que alguém mau o pegou", disse.
Policiais do 37º DP não explicaram a razão de o boletim não ter sido feito e disseram que, caso ela volte hoje, será atendida. Policiais do 11º DP também não souberam dar explicações. A Secretaria da Segurança Pública informa que repudia policiais que não atendam à população e a orienta a denunciar esses policiais à Corregedoria.


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