São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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REFERENDO/RESULTADO

Liberação da venda de armas ganha também em todas as capitais e principais grandes cidades; abstenção foi maior no Norte e no Nordeste

"Não" vence fácil nos 26 Estados e no DF

FERNANDO RODRIGUES
EM SÃO PAULO

O voto do "não" no referendo de ontem foi vencedor nos 26 Estados e no Distrito Federal. Com 99,44% das urnas apuradas à 0h45 de hoje, vencia também em todas as 27 capitais.
Como houve vitória expressiva nos Estados do Sul e do Sudeste (onde estão 59% dos eleitores), nem seria necessário ganhar em localidades menores.
Nos três Estados com maior eleitorado do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (42% do total), por exemplo, o "não" venceu com larga vantagem.
Com mais de mais de 99,9% das urnas apuradas nesses três Estados do Sudeste, essa região conhecida como o "triângulo das Bermudas" da política tinha uma média de 61% a favor do "não" e só 39,1% alinhados ao "sim". Uma diferença de quase 22 pontos, suficiente para alavancar a vitória mesmo com eventuais derrotas em Estados menores.
O peso de paulistas, mineiros e fluminenses ficou evidenciado no cenário eleitoral do país com o referendo. Assim como é quase impossível ganhar uma eleição presidencial sem uma vitória nesses três Estados, também não se consegue êxito numa consulta popular como a de ontem.
Nas grandes capitais, o voto no "não" muitas vezes foi maior do que a média do Estado. Uma exceção foi São Paulo, onde o "não" teve 59,6% em todo o Estado e 57,7% na capital.
Já em Minas Gerais e no Rio, o "não" foi superior nas capitais. Os mineiros de maneira geral deram 61,3% para o "não". Em Belo Horizonte, o percentual subiu para 62,9%. No Rio, o eleitorado fluminense ofereceu 61,9% para o "não". Quando se trata apenas dos cariocas, os eleitores da capital, o percentual vai a 63,7%.
Há também uma correlação entre os eleitores que ontem votaram mais vigorosamente no "não" e os que já foram vítimas de algum crime em que houve ameaça com arma de fogo, independentemente de terem ocorrido ou não ferimentos -há 23% nessa condição, segundo o Datafolha.
Esses eleitores, apurou o Datafolha, queriam votar majoritariamente (62%) no "não", sendo que a maioria desse grupo reside nas regiões Sudeste e Sul, sobretudo em áreas metropolitanas -as capitais. Ontem, nas urnas, o Sul e o Sudeste foram as duas regiões com os maiores percentuais de apoio ao "não".
A abstenção acima da média de eleições tradicionais foi puxada para cima justamente nos Estados onde o "sim" teve um desempenho menos pior. No Norte e no Nordeste, as taxas de não-comparecimento às urnas foram de 27,7% e 25,2%, respectivamente.

Derrotas políticas
Entre os políticos, o derrotado mais evidente foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi favorável ao "sim". A respeito dessa preferência do petista, há uma coincidência com sua taxa de popularidade.
Segundo levantamento do Datafolha na semana passada, é no Nordeste que a imagem do governo Lula está menos desgastada, com 37% de aprovação. É também entre os nordestinos que o "sim" teve sua melhor marca, com 42,5%.
Além de Lula, perderam com a derrota do "sim" os políticos associados à campanha do desarmamento. O principal homem dessa ala no Congresso foi o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que apostava numa vitória para lustrar sua imagem -ele que apoiou Fernando Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994), FHC (1995-2002), mas aspirar a ser colega de chapa de Lula em 2006.


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