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RUY OHTAKE
Marco zero teria altura de 200 m
DA REPORTAGEM LOCAL
O arquiteto Ruy Ohtake acha
que não dá para pensar a revitalização do centro de São Paulo sem
contar com um símbolo forte, um
marco a sinalizar que a época do
abandono acabou. É para isso que
ele projetou uma torre com 200
metros de altura, o triplo da catedral da Sé, que funcionaria como
um novo marco zero da cidade.
"Essa torre seria o maior golpe
na revitalização do centro. Esse
projeto não pode se restringir à
recuperação de imóveis. É preciso
criar algo novo, que faça parte da
história do século 21", diz Ohtake,
67, criador do Hotel Unique e do
Instituto Tomie Ohtake.
Para chegar ao século 21, o arquiteto recuou ao século 19. O
marco zero que ele propõe fica no
lugar que abrigou o largo da Sé.
Entre 1911 e 1912, as igrejas da Sé e
de São Pedro dos Clérigos, que ficavam nesse largo, foram demolidas para que a área da praça fosse
quintuplicada.
Uma nova reforma da praça da
Sé, na década de 70, para acomodar uma estação de metrô, acabou
por cortar um dos simbolismos
que havia na região, segundo Ohtake: a ligação que havia entre o
Pátio do Colégio, onde a cidade
nasceu em 1554, e a Sé.
A torre desenhada por Ohtake,
em aço e concreto, teria um resumo da história de São Paulo. Para
chegar ao topo, onde haveria um
mirante com uma visão de 360
sobre a cidade, três elevadores, cada um com capacidade para 50
pessoas, teriam cinco paradas para fazer: cada uma delas contaria a
história de um século.
No térreo, um auditório para
150 pessoas presta tributo a um
prédio que havia na Sé e aos pintores que tinham um ateliê ali: o
Grupo Santa Helena, formado
por Alfredo Volpi (1896-1988),
Clóvis Graciano (1907-1988), Fulvio Pennacchi (1905-1992) e Rebolo (1902-1980). O Palacete Santa Helena, construído no mesmo
ano da Semana de Arte Moderna
(1922), foi demolido em 1971.
Ohtake imaginou ainda um restaurante de "alta gastronomia
brasileira" no topo da torre e um
café chamado Gouveia em tributo
ao que ele chama de o melhor
chope dos anos 50.
Ele diz não temer que uma torre
de 200 metros, o equivalente a um
edifício de 66 andares, acabe por
aumentar o caos da região: "É
uma torre alta, mas não volumosa, para se adequar à escala da
praça". A altura não é um exercício de narcisismo, segundo ele. É
um comentário sobre o acanhamento que tomou conta da arquitetura nas últimas três décadas.
"Os arquitetos se retraíram.
Ninguém tem coragem de propor
obras grandes. Qualquer coisa
mais grandiosa é tachada de faraônica. É claro que São Paulo,
pelo seu tamanho, tem de ter
equipamentos mais generosos."
A combinação de crises econômicas sucessivas e desigualdade
brutal de renda acabou por transformar os governantes, na opinião do arquiteto, em construtores que prezam mais o utilitário
em detrimento da criação.
A soma da altura da torre, do
material e da tecnologia empregada funcionam, de acordo com o
arquiteto, como um manifesto
anti-saudosismo, comum quando o assunto é centro paulistano.
Essa espécie de "chega de saudade" é uma decorrência da visão
que Ohtake tem da maneira como
história e arquitetura se articulam. "A história não pára. Um
problema sério no Brasil é o receio de ser protagonista da história." Esse temor, Ohtake não tem.
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