São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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RUY OHTAKE

Marco zero teria altura de 200 m

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Ruy Ohtake acha que não dá para pensar a revitalização do centro de São Paulo sem contar com um símbolo forte, um marco a sinalizar que a época do abandono acabou. É para isso que ele projetou uma torre com 200 metros de altura, o triplo da catedral da Sé, que funcionaria como um novo marco zero da cidade.
"Essa torre seria o maior golpe na revitalização do centro. Esse projeto não pode se restringir à recuperação de imóveis. É preciso criar algo novo, que faça parte da história do século 21", diz Ohtake, 67, criador do Hotel Unique e do Instituto Tomie Ohtake.
Para chegar ao século 21, o arquiteto recuou ao século 19. O marco zero que ele propõe fica no lugar que abrigou o largo da Sé. Entre 1911 e 1912, as igrejas da Sé e de São Pedro dos Clérigos, que ficavam nesse largo, foram demolidas para que a área da praça fosse quintuplicada.
Uma nova reforma da praça da Sé, na década de 70, para acomodar uma estação de metrô, acabou por cortar um dos simbolismos que havia na região, segundo Ohtake: a ligação que havia entre o Pátio do Colégio, onde a cidade nasceu em 1554, e a Sé.
A torre desenhada por Ohtake, em aço e concreto, teria um resumo da história de São Paulo. Para chegar ao topo, onde haveria um mirante com uma visão de 360 sobre a cidade, três elevadores, cada um com capacidade para 50 pessoas, teriam cinco paradas para fazer: cada uma delas contaria a história de um século.
No térreo, um auditório para 150 pessoas presta tributo a um prédio que havia na Sé e aos pintores que tinham um ateliê ali: o Grupo Santa Helena, formado por Alfredo Volpi (1896-1988), Clóvis Graciano (1907-1988), Fulvio Pennacchi (1905-1992) e Rebolo (1902-1980). O Palacete Santa Helena, construído no mesmo ano da Semana de Arte Moderna (1922), foi demolido em 1971.
Ohtake imaginou ainda um restaurante de "alta gastronomia brasileira" no topo da torre e um café chamado Gouveia em tributo ao que ele chama de o melhor chope dos anos 50.
Ele diz não temer que uma torre de 200 metros, o equivalente a um edifício de 66 andares, acabe por aumentar o caos da região: "É uma torre alta, mas não volumosa, para se adequar à escala da praça". A altura não é um exercício de narcisismo, segundo ele. É um comentário sobre o acanhamento que tomou conta da arquitetura nas últimas três décadas.
"Os arquitetos se retraíram. Ninguém tem coragem de propor obras grandes. Qualquer coisa mais grandiosa é tachada de faraônica. É claro que São Paulo, pelo seu tamanho, tem de ter equipamentos mais generosos."
A combinação de crises econômicas sucessivas e desigualdade brutal de renda acabou por transformar os governantes, na opinião do arquiteto, em construtores que prezam mais o utilitário em detrimento da criação.
A soma da altura da torre, do material e da tecnologia empregada funcionam, de acordo com o arquiteto, como um manifesto anti-saudosismo, comum quando o assunto é centro paulistano.
Essa espécie de "chega de saudade" é uma decorrência da visão que Ohtake tem da maneira como história e arquitetura se articulam. "A história não pára. Um problema sério no Brasil é o receio de ser protagonista da história." Esse temor, Ohtake não tem.


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