São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Mães tiram férias para levar filho à escola

Adaptação de crianças pequenas costuma exigir que pais fiquem no colégio por até duas semanas; medida é recomendada por educadores

Criança se habitua mais facilmente ao colégio quando pode ir até a mãe; pais também podem sofrer com mudança

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A microempresária Michele Macedo, 29, está adiantando seu trabalho ao máximo, deixando tudo engatilhado, porque vai ficar uma ou duas semanas fora do escritório. Mas não serão dias de viagem nem de descanso. Ela vai para o colégio.
Macedo está no grupo de mães e de pais que escolhem a dedo as férias ou os dias de folga: no início do ano escolar. Querem estar lá quando os filhos mudarem de série ou estrearem no colégio.
Na sala de aula, ficam as crianças recém-chegadas com a professora. Numa sala ao lado, "escondidas", as mães. A cada berreiro que a professora não consegue contornar, o pequeno aluno é levado até a mãe. Recomposto, ele volta para a aula.
"O trabalho ou o filho? Não há nem o que pensar. A prioridade é meu filho", pergunta e responde Michele, referindo-se a seu Cauã Francisco, 2. Mãe e filho entrarão de mãos dadas no colégio Santa Amália (zona sul de São Paulo) na semana que vem. "Preciso estar lá, pois é certo que ele vai estranhar."
Não é exagero ou superproteção tirar folga do trabalho para acompanhar os filhos, que têm sido matriculados no colégio cada vez mais novos.
"É normal que tenham medo. O espaço é novo, as pessoas são novas", diz Marina Pedrosa, orientadora do colégio Nossa Senhora Aparecida (zona sul). "A presença de alguém do mundo da criança ajuda a criar segurança. Ela não fica achando que foi abandonada", acrescenta Patrícia Bisseti, orientadora do colégio Pio XII (zona oeste).
Quando a criança de um, dois, três ou quatro anos pode ir ao encontro da mãe toda vez que se sente insegura, o processo de adaptação normalmente dura de uma a duas semanas. Sem esse vaivém e sem um adulto de referência, a criança pode não querer ficar na escola.
Foi o que aconteceu com Vicenzo Cirilo, 1, no final do ano passado. Como a adaptação ao berçário, com mãe ao lado, havia sido tranquila, a escola entendeu que o processo não precisaria se repetir no maternal.
"Comecei a ter uma série de problemas. Ele, que amava o berçário, passou a chorar para não ir ao colégio", diz a analista de sistemas Carla Cirilo, 37.
Após "quase entrar em parafuso", a mãe concluiu que seria preciso mudar Vicenzo de escola. Foi o que fez. Tirou folga do trabalho para ficar de plantão no jardim do colégio Pueri Domus (zona sul). Em duas semanas, o filho estava adaptado.
Embora as mães sejam maioria, alguns pais, babás e avós também participam. Qualquer que seja o caso, o responsável não pode se abalar com o choro.
"Orientamos os pais que não deem total atenção à criança. Devem dizer: "Estou aqui, fique tranquilo. Pode voltar para sua classe". E na mesma hora retomar o livro, o laptop ou a conversa com outro pai. Se não for assim, o filho não vai querer se desgrudar", diz Liamara Montagner, coordenadora do colégio Santo Américo (zona oeste).
A adaptação escolar pode ser mais difícil para os pais do que para a própria criança. "Os pais ficaram até então vivendo só para a sua cria e, de repente, ela vira as costas, se desliga da família e vai para a escola. A separação é dolorosa para eles", diz a psicanalista Diana Corso.
A escola deve ouvir a dor dos pais, afirma Corso. "Eles ficam mais tranquilos quando sabem que a escola vai levar em conta a visão que eles têm do filho."


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