São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2000


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GUERRA DO TRÁFICO
Um policial ficou ferido no ombro em confronto com traficantes no morro do Salgueiro
Tiroteio em morro do Rio deixa 1 morto

FERNANDA PONTES
da Sucursal do Rio

A polícia ocupou ontem o morro do Salgueiro, na Tijuca (zona norte do Rio), após um confronto entre supostos traficantes e policiais militares. Na troca de tiros, um jovem de 17 anos, suspeito de pertencer ao tráfico, morreu. Um policial militar ficou ferido no ombro.
O confronto começou por volta das 10h, quando moradores e crianças estavam fora de suas casas. A operação da polícia tinha como objetivo prender traficantes da favela.
Um policial do 6º BPM (Batalhão da Polícia Militar), que participou da operação, disse que viu dois rapazes em cima da laje de uma das casas.
Conhecidos como "olheiros", esses garotos costumam avisar os traficantes quando a polícia entra na favela. Ao notar que os policias se aproximavam, um dos rapazes, que não foi identificado, colocou no colo uma criança de três anos.
O policial pediu que a criança fosse colocada no chão. A ordem foi cumprida pelo rapaz, que em seguida atirou no ombro de um sargento.
Começou, então, um intenso tiroteio que só terminou dez minutos depois, com a morte de Francisco Djalmir Araújo, 17. Ele também participou do tiroteio, usando uma pistola 45, que pertencia ao Exército.
Indignados, os moradores disseram que Araújo foi assassinado injustamente. "Ele já tinha sido dominado pela polícia", disse um morador da favela que não quis se identificar.
O corpo do rapaz ainda permaneceu durante todo o dia no local do crime. A cena era impressionante: o corpo envolto por moscas ao lado de crianças e adolescentes, que o observavam.

Outros episódios
Nos primeiros dois meses deste ano, têm sido frequentes os episódios de violência nas favelas do Rio (leia texto abaixo). Este foi o segundo episódio deste tipo no Salgueiro este mês. No dia 8, Magnólia Conceição Santos, 51, perdeu seu filho de 19 anos em um confronto com a polícia.
Cosme, como ele se chamava, era deficiente mental e não podia trabalhar.
No hora do crime, o rapaz estava ajudando uma moradora a carregar compras. Magnólia disse que mesmo após Cosme ser ferido, os policiais ainda chutaram seu filho. "Foi uma covardia."
Os moradores do morro, em protesto, queimaram carros em frente à favela.
Ontem, Magnólia mostrou as roupas do filho sujas de sangue. Mãe de 16 filhos, ela já perdeu quatro em confronto com a polícia. "Eles vêm aqui atrás de traficantes e a população paga o pato", disse.


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