São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Parceria é "impossível", afirma governo do Rio

DA SUCURSAL DO RIO

O governo do Estado do Rio considera "impossível" qualquer tipo de parceria com milícias, como propôs o líder do grupo que comanda o complexo da Palmeirinha, João Carlos. Segundo a assessoria de imprensa do governador Sérgio Cabral, sua gestão é "totalmente avessa às milícias" e os considera criminosos.
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que as milícias normalmente aproveitam o enfraquecimento de quadrilhas de traficantes, após operações policiais, para tomar comunidades.
Segundo ele, milicianos evitam o confronto direto com traficantes, principalmente em favelas maiores e mais armadas. "Duvido que entrem em favelas maiores. Podem fazer em lugares menores. Não vou dizer que é mentira, mas é difícil e a minoria. Eles não batem de frente com traficantes", disse Beltrame, que também desconfia que informantes se arrisquem a passar informações para os grupos.
O secretário disse que "não existe a figura penal de milícia" e, portanto, o que está sendo investigado são desvios de conduta administrativos, como o uso de arma funcional, venda de segurança ilegal e formação de quadrilha.
Sem defender explicitamente as milícias, o prefeito do Rio, Cesar Maia, disse que a dinâmica da saída do tráfico e a entrada de milícias leva para o local famílias de policiais e militares, "que se somam na defesa da comunidade".
"Onde vão morar soldados, cabos e sargentos e suas famílias? Os oficiais ainda podem morar em condomínios de classe média. Quando uma comunidade fica livre do tráfico de drogas, famílias de policiais vão morar lá. Com isso, o efetivo [oficial] necessário para manter a ordem diminui muito, pois, havendo riscos, os policiais que moram lá se somam na defesa da comunidade. Quanto maior a estabilidade, menor a necessidade de efetivos [policiais]", diz o prefeito.
Na opinião de Maia, "esse processo seria progressivo" nas favelas da cidade. "Se tivesse começado 15 anos atrás, hoje a situação seria outra, sem tráfico de drogas ou milícias. "

Prioridade
Para o prefeito, as milícias conseguem ocupar favelas e mantê-las sobre seu controle -diferentemente da polícia- porque "essa não tem sido uma prioridade dos governos". "Espero que seja neste."
Foram do Gabinete Militar do prefeito os primeiros relatórios de análise sobre as milícias a aparecerem na mídia.
O prefeito afirmou que uma "parceria" entre o poder municipal e as comunidades dominadas "é redundante, pois as responsabilidades municipais (escolarização, por exemplo) são cumpridas, independentemente da presença de quem for".
Segundo ele, "não há relação entre os serviços públicos e eventuais grupos presentes nas comunidades".
Indagado se uma eventual cooperação pode ser entendida como "legitimar o poder paralelo", Maia respondeu que "a responsabilidade de garantir a ordem pública é do Estado".
(RG)


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