São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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Bingos de SP viram mais uma opção de balada e de paquera

Com cenários suntuosos e um jeitão de parque temático, casas arrebanham jovens

Eles dizem que não é o jogo que importa, mas a curtição; para alguns será uma fase, mas outros serão capturados pelo vício, diz psicanalista

MARIANE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA

Não importa se alguma tormenta castiga a cidade ou se o sol está a pino. Ali, o tempo é sempre igual, nem dia nem noite, luzes multicores piscam insistentemente e os sonoros "dlubs" e "plins" são tão onipresentes quanto as BPMs (batidas por minuto) de um hit hard tecno. É balada, sim, mas em um lugar normalmente mais associado à terceira idade do que à juventude: o bingo.
O ambiente segue a linha dos parques temáticos, com a diferença de que não se vêem crianças, mas rapazes e moças, a maioria universitários.
"As pessoas têm a falsa impressão que bingo é coisa de velho, mas isso aqui é uma delícia", diz o estudante Aislan Borges, 24, no balcão do bar do Imperatriz, no Paraíso (zona sul). A maioria dos bingos funciona 24 horas, mas a moçada só começa a chegar por volta das 21h, nos fins de semana.
No complexo de 3.500 m2, a área de jogo preferida é o imenso corredor formado por 400 máquinas de bingo eletrônico.
O discurso coletivo diz que não é o jogo que importa. "Isso aqui é pura curtição. Claro que se joga, mas joga quem quer", afirma o estudante de direito Bruno Cação, 21, que costuma "bater uma cartelinha" todo final de semana com os irmãos.
De camisa preta com as mangas dobradas, gel nos cabelos e uma grossa corrente de prata no pescoço, Bruno ainda exibe as indesejáveis espinhas que marcam a puberdade. Mas a pose, diante da máquina, ao lado da namorada, Caroline, é de um magnata em Las Vegas, o corpo colado na loira, uma mão no queixo e a outra no botão que aciona a máquina.
Há outros atrativos a destacar. "Não jogo nem rouba-monte, mas adoro a maneira como sou tratada aqui. O ambiente é lindo, a mesa está sempre bem-posta e vejo gente bonita circulando", descreve a bailarina Rosiene Ruiz, 31.
Além do restaurante, o bingo oferece gratuitamente lanche da tarde (bolo ou salgadinhos) e uma sopa na madrugada. Água e café expresso também são gratuitos.
Foi entre uma cartelinha e outra que a bailarina Thays Schimidt, 28, e o publicitário Roberto Marques, 27, engataram um namoro, que dura cinco meses. "Vim acompanhar a minha mãe e conheci a Thays", conta.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Bingos (Abrabin), Olavo Sales da Silveira, a "onda jovem" começou no Rio há dois anos e há cerca de um chegou a São Paulo.
"Os mais novos têm maior proximidade com videogame, e o bingo eletrônico é muito similar, talvez por isso se identifiquem", afirma Silveira, que diz que os cerca de 600 bingos funcionando no Brasil movimentam R$ 2,16 bilhões/ano.
O empresário Jair de Paula, 44, dono do Imperatriz, engrossa o discurso de que os adeptos vão mais pelo clima que pelo jogo e diz que só 30% tentam a sorte. "Muitos vão dançar em boates e passam por aqui para tomar a sopa servida na madrugada."
Para alguns jovens, diz Sandra Dias, professora de psicanálise da PUC-SP, essa será uma fase. "Eles vão se divertir, paquerar, arrumar namoradas. Outros, com propensão ao vício, os problemáticos, serão capturados, porque, assim como chats e videogame, máquinas de bingo eletrônico provocam uma adição semelhante à da droga em alguns jovens."


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