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Bingos de SP viram mais uma opção de balada e de paquera
Com cenários suntuosos e um jeitão de parque temático, casas arrebanham jovens
Eles dizem que não é o jogo que importa, mas a curtição; para alguns será uma fase, mas outros serão capturados pelo vício, diz psicanalista
MARIANE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA
Não importa se alguma tormenta castiga a cidade ou se o
sol está a pino. Ali, o tempo é
sempre igual, nem dia nem noite, luzes multicores piscam insistentemente e os sonoros
"dlubs" e "plins" são tão onipresentes quanto as BPMs (batidas por minuto) de um hit
hard tecno. É balada, sim, mas
em um lugar normalmente
mais associado à terceira idade
do que à juventude: o bingo.
O ambiente segue a linha dos
parques temáticos, com a diferença de que não se vêem crianças, mas rapazes e moças, a
maioria universitários.
"As pessoas têm a falsa impressão que bingo é coisa de velho, mas isso aqui é uma delícia", diz o estudante Aislan
Borges, 24, no balcão do bar do
Imperatriz, no Paraíso (zona
sul). A maioria dos bingos funciona 24 horas, mas a moçada
só começa a chegar por volta
das 21h, nos fins de semana.
No complexo de 3.500 m2, a
área de jogo preferida é o imenso corredor formado por 400
máquinas de bingo eletrônico.
O discurso coletivo diz que
não é o jogo que importa. "Isso
aqui é pura curtição. Claro que
se joga, mas joga quem quer",
afirma o estudante de direito
Bruno Cação, 21, que costuma
"bater uma cartelinha" todo final de semana com os irmãos.
De camisa preta com as mangas dobradas, gel nos cabelos e
uma grossa corrente de prata
no pescoço, Bruno ainda exibe
as indesejáveis espinhas que
marcam a puberdade. Mas a
pose, diante da máquina, ao lado da namorada, Caroline, é de
um magnata em Las Vegas, o
corpo colado na loira, uma mão
no queixo e a outra no botão
que aciona a máquina.
Há outros atrativos a destacar. "Não jogo nem rouba-monte, mas adoro a maneira
como sou tratada aqui. O ambiente é lindo, a mesa está sempre bem-posta e vejo gente bonita circulando", descreve a
bailarina Rosiene Ruiz, 31.
Além do restaurante, o bingo
oferece gratuitamente lanche
da tarde (bolo ou salgadinhos)
e uma sopa na madrugada.
Água e café expresso também
são gratuitos.
Foi entre uma cartelinha e
outra que a bailarina Thays
Schimidt, 28, e o publicitário
Roberto Marques, 27, engataram um namoro, que dura cinco meses. "Vim acompanhar
a minha mãe e conheci a
Thays", conta.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Bingos
(Abrabin), Olavo Sales da Silveira, a "onda jovem" começou
no Rio há dois anos e há cerca
de um chegou a São Paulo.
"Os mais novos têm maior
proximidade com videogame, e
o bingo eletrônico é muito similar, talvez por isso se identifiquem", afirma Silveira, que
diz que os cerca de 600 bingos
funcionando no Brasil movimentam R$ 2,16 bilhões/ano.
O empresário Jair de Paula,
44, dono do Imperatriz, engrossa o discurso de que os
adeptos vão mais pelo clima
que pelo jogo e diz que só 30%
tentam a sorte. "Muitos vão
dançar em boates e passam por
aqui para tomar a sopa servida
na madrugada."
Para alguns jovens, diz Sandra Dias, professora de psicanálise da PUC-SP, essa será
uma fase. "Eles vão se divertir,
paquerar, arrumar namoradas.
Outros, com propensão ao vício, os problemáticos, serão
capturados, porque, assim como chats e videogame, máquinas de bingo eletrônico provocam uma adição semelhante à
da droga em alguns jovens."
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