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Shoppings devem R$ 152 mi de IPTU em SP
Valor seria suficiente para construir 7 CEUs ou 1,5 km de linha de metrô; maior devedor é o Interlagos -R$ 57,8 milhões
Os 13 shoppings não se acham devedores pois depositaram na Justiça os valores cobrados; estrutura do município é precária, afirma vereador
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Treze shoppings devem cerca de R$ 152 milhões em IPTU
(Imposto Predial e Territorial
Urbano) à Prefeitura de São
Paulo, segundo levantamento
inédito feito pela Folha. Com
esse valor, a prefeitura poderia
construir sete escolas com teatro, piscina e biblioteca, similares ao CEU, ou ajudar o governo estadual a implantar 1,5 quilômetro de linha de metrô.
O maior devedor é o shopping Interlagos, na zona sul.
Ele aparece com um débito de
R$ 57,8 milhões no cadastro da
dívida ativa municipal. Por
ano, a prefeitura cobra R$ 7,5
milhões de IPTU do shopping.
Dos quatro maiores devedores, três são do grupo Savoy,
considerado o maior dono de
imóveis da cidade. Os shoppings Interlagos, Aricanduva e
Central Plaza aparecem com
uma dívida de R$ 86,2 milhões,
ou 57% da dívida total do setor.
O levantamento da Folha foi
feito numa base de dados pública (o cadastro da dívida ativa). Foram pesquisados 48
shoppings da cidade.
A dívida mais antiga é de
1978. Está lançada na conta do
shopping Bourbon. Em 2005,
27 anos após o processo ter sido instaurado, ele foi para a segunda instância. O Bourbon
comprou em leilão em 1997 o
shopping que era da família
Matarazzo e defende na Justiça que a dívida não é sua, embora uma resolução da prefeitura preveja que o comprador
herde as dívidas tributárias.
Os shoppings não se consideram devedores porque depositaram na Justiça os valores cobrados. Dizem que contestam
as cobranças porque são abusivas (leia na página seguinte).
O IPTU é a segunda fonte de
receita da prefeitura e responde por cerca de 30% do que a
cidade arrecada. Só perde para
o ISS (Imposto sobre Serviços).
É um bom negócio dever para a Prefeitura de São Paulo, diz
o vereador Aurélio Miguel
(PR), presidente de uma CPI
que trata do IPTU.
"A estrutura de cobrança da
prefeitura é muito precária e,
de tempos em tempos, tem
uma anistia que perdoa parte
da dívida." Ele diz ser contra a
anistia a grandes devedores por
considerar que o perdão estimula a ilegalidade. O programa
de parcelamento começa com
um desconto de cerca de 40%
da dívida, disse o vereador.
As principais causas das
ações judiciais dos shoppings
são equívocos da prefeitura na
cobrança e legislação dúbia, segundo três advogados que defendem shoppings, que falaram
sob a condição de que seus nomes não fossem revelados.
Há erros aparentemente
grosseiros. O shopping Interlagos, por exemplo, diz que a prefeitura cobra imposto por uma
laje de 16 mil m2 que existia no
projeto original, mas não foi
construída.
Como acontece em toda a
área tributária, qualquer brecha na lei é explorada pelos
grandes contribuintes -e a legislação municipal é farta nesse quesito. Só no último mês, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que o imposto progressivo -a ideia de quanto maior o
imóvel, maior o imposto- só
pode ser aplicado a partir de
2000, quando uma emenda
constitucional tornou legal esse tipo de política.
Boa parte das ações judiciais
dos shoppings contesta a progressividade do IPTU.
Outra fonte de contestação é
a chamada planta genérica -é
ela que determina o quanto o
proprietário pagará por m2. Há
discrepâncias inaceitáveis, segundo Aurélio Miguel. Ele diz
que o Bourbon paga R$ 600 pelo m2, enquanto o West Plaza, a
menos de um quilômetro de
distância, sai por R$ 1.100.
Num supermercado a cerca de
500 metros do West Plaza, o m2
cai para R$ 300.
O vereador Antonio Donato
(PT) acha que a CPI deve se
concentrar nessas disparidades
para reduzir as brechas que geram as contestações judiciais.
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