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EDUCAÇÃO
Pesquisa mostra que um terço dos docentes do ensino básico se diz pobre e que 60% deles nunca usaram correio eletrônico
Internet não é ferramenta de professores
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pesquisa sobre o perfil dos professores do ensino fundamental e
médio no Brasil, divulgada ontem
pela Unesco, mostra que quase
60% deles nunca usaram correio
eletrônico ou navegaram na internet. Uma parcela ainda maior não
lê jornal todos os dias e tem uma
idéia negativa dos valores dos jovens de hoje.
A pesquisa "O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o
que pensam, o que almejam" ouviu 5.000 professores (82,2% de
escolas públicas e 17,8% das particulares), em abril e maio de 2002.
O acesso restrito à tecnologia,
avaliado pelos pesquisadores como problemático em uma sociedade que depende cada vez mais
dos computadores, tem relação
direta com os baixos salários. Um
terço dos professores se diz pobre,
e 53,1% acreditam pertencer à
classe média baixa. "Um professor que não conhece a internet
tem hoje capacidade limitada de
ajudar seu aluno", diz Maria Fernanda Rezende Nunes, pesquisadora da UniRio (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e uma das
responsáveis pelo documento.
A desvalorização econômica da
profissão é responsável pela presença majoritária de mulheres
(81,3%) na atividade. Segundo
Maria Fernanda, a baixa remuneração pode explicar ainda a pouca
idade da maior parte dos professores brasileiros (80% têm entre
25 e 45 anos). Em países europeus, segundo ela, a média fica em
torno dos 40 anos.
Em sua maioria, os professores
são de famílias com pouca instrução. Os pais de 81% dos entrevistados não completaram o ensino
básico (fundamental e médio) e
15% têm pais sem qualquer instrução formal.
Mesmo tendo estudado na rede
pública, a maior parte dos docentes prefere ver seus filhos em escolas particulares. "A avaliação está
na crença de que a escola pública
não é suficiente e que a escola privada permite maior mobilidade
social", avalia Maria Fernanda.
A pesquisa mostra um quadro
desanimador da visão que os professores têm dos jovens: mais da
metade acredita que enfraqueceram valores como compromisso
social, responsabilidade, seriedade, honestidade, tolerância e respeito aos mais velhos. Na visão da
maioria dos docentes, apenas o
amor à liberdade teria se fortalecido. "Esta concepção negativa cria
um vínculo professor-aluno baseado na desconfiança e na falta
de compreensão do outro", diz
Juan Carlos Tedesco, Diretor do
Instituto Internacional de Planejamento de Educação.
Para ele, a pesquisa ajuda a mapear o que deve ser mudado e onde os investimentos devem ir. "Os
professores nunca foram prioridade na agenda das reformas
educativas. Só se apostava em laboratórios, espaço e gestão", diz.
Para Eliezer Pacheco, presidente do Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais) do Ministério da Educação,
os números mostram "a tragédia
da educação básica", que causou a
queda nos números de aprendizagem nos últimos dez anos.
Pacheco enfatizou ainda que a
pesquisa deixa claro a perversidade das diferenças regionais no
país, "que faz escolas públicas da
região Sul terem índices de aprendizado melhores do que escolas
particulares do Norte".
Além do Brasil, a pesquisa foi
realizada na Argentina, Peru e
Uruguai. Foram semelhantes dados como baixos salários e a grande presença de mulheres na profissão. Segundo Tedesco, a pesquisa deve ser refeita em dois
anos, para verificação de mudanças.
(ANA FLOR)
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