|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Casa de parto é subutilizada em SP
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O bebê está para nascer. Em geral, o casal escolhe o parto cirúrgico numa maternidade ou a cesárea com hora marcada. Mas também pode optar por uma casa de
parto, onde médicos são substituídos por enfermeiras obstetras.
No quarto, há uma banheira
com hidromassagem, e o pai ou o
acompanhante poderá ficar o
tempo todo ao lado da gestante.
Nem é preciso plano de saúde,
pois as casas de parto são do serviço público. A única exigência é
que não seja um parto de risco
-fato que acontece em menos de
20% dos casos.
À primeira vista, a opção mais
natural parece ser por uma casa
de parto. Não é assim. As duas
existentes em São Paulo só têm
metade dos leitos ocupados.
O Ministério da Saúde tem projeto de criar 30 delas em todo o
país, mas só 14 foram implantadas até agora. A cultura médica
brasileira e a falta de informação
seriam responsáveis por essa resistência. Tanto assim que o ministério substituiu o termo casa
de parto por Centro de Parto Normal. A médica Maria José de Oliveira Araujo, coordenadora do
programa saúde da mulher do
Ministério da Saúde, diz que a
portaria que criou os centros de
parto dispõe que as casas podem
ser próximas a hospitais ou longe
deles. No segundo caso, terão de
contar com um hospital de referência mais próximo possível e
uma ambulância disponível para
o transferência da mulher, caso
haja algum problema.
No Brasil, São Paulo é a cidade
que tem mais experiência em diferentes situações de casas de parto. A primeira delas funcionou
dentro da favela Monte Azul e foi
dirigida pela parteira alemã Angela Geherke da Silva, que morreu
em 2000. Um ano antes, a casa fora fechada pelo Conselho Regional de Enfermagem sob a alegação de que o diploma de Angela
não era reconhecido no Brasil.
Na seqüência, em setembro de
1998, foi aberta a casa de parto de
Sapopemba, numa parceria entre
o Estado e a Fundação Zerbini.
Hoje, com a municipalização, está
sob os cuidados da Secretaria Municipal da Saúde. A casa tem sete
leitos e poderia estar fazendo três
a quatro partos por dia, ou cerca
de 100 por mês. Mas está fazendo
apenas 40. "É uma questão cultural, muitas vezes reforçada pelos
profissionais de saúde", diz a enfermeira obstetra Matilde Midori
Muta, responsável pela casa.
O hospital e maternidade Santa
Marcelina, do Itaim Paulista, na
zona leste, abriu uma casa de parto junto ao próprio hospital. Chama-se Casa de Maria. Numa região onde faltam leitos obstetras,
os 60 da maternidade do Itaim estão sendo ocupados.
Na semana passada, a Casa de
Maria foi a primeira instituição
do país a receber o Prêmio Nacional Amigas do Parto. Há vários
anos, cresce no Brasil um movimento que agrupa profissionais
de várias especialidades que defendem o parto humanizado.
"Faltam informações às mulheres", diz Mitsue Kuroki, enfermeira obstetra e gerente da Casa
de Maria. "Quem passa por aqui
traz as amigas. As casas de parto
são o caminho mais saudável."
Em alguns países da Europa, cerca de 40% dos partos são realizados com parteiras, em casa.
Texto Anterior: Secretaria acusa grevistas de prática ilegal da medicina Próximo Texto: Federação quer obstetras nos estabelecimentos Índice
|