São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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Casa de parto é subutilizada em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O bebê está para nascer. Em geral, o casal escolhe o parto cirúrgico numa maternidade ou a cesárea com hora marcada. Mas também pode optar por uma casa de parto, onde médicos são substituídos por enfermeiras obstetras.
No quarto, há uma banheira com hidromassagem, e o pai ou o acompanhante poderá ficar o tempo todo ao lado da gestante.
Nem é preciso plano de saúde, pois as casas de parto são do serviço público. A única exigência é que não seja um parto de risco -fato que acontece em menos de 20% dos casos.
À primeira vista, a opção mais natural parece ser por uma casa de parto. Não é assim. As duas existentes em São Paulo só têm metade dos leitos ocupados.
O Ministério da Saúde tem projeto de criar 30 delas em todo o país, mas só 14 foram implantadas até agora. A cultura médica brasileira e a falta de informação seriam responsáveis por essa resistência. Tanto assim que o ministério substituiu o termo casa de parto por Centro de Parto Normal. A médica Maria José de Oliveira Araujo, coordenadora do programa saúde da mulher do Ministério da Saúde, diz que a portaria que criou os centros de parto dispõe que as casas podem ser próximas a hospitais ou longe deles. No segundo caso, terão de contar com um hospital de referência mais próximo possível e uma ambulância disponível para o transferência da mulher, caso haja algum problema.
No Brasil, São Paulo é a cidade que tem mais experiência em diferentes situações de casas de parto. A primeira delas funcionou dentro da favela Monte Azul e foi dirigida pela parteira alemã Angela Geherke da Silva, que morreu em 2000. Um ano antes, a casa fora fechada pelo Conselho Regional de Enfermagem sob a alegação de que o diploma de Angela não era reconhecido no Brasil.
Na seqüência, em setembro de 1998, foi aberta a casa de parto de Sapopemba, numa parceria entre o Estado e a Fundação Zerbini. Hoje, com a municipalização, está sob os cuidados da Secretaria Municipal da Saúde. A casa tem sete leitos e poderia estar fazendo três a quatro partos por dia, ou cerca de 100 por mês. Mas está fazendo apenas 40. "É uma questão cultural, muitas vezes reforçada pelos profissionais de saúde", diz a enfermeira obstetra Matilde Midori Muta, responsável pela casa.
O hospital e maternidade Santa Marcelina, do Itaim Paulista, na zona leste, abriu uma casa de parto junto ao próprio hospital. Chama-se Casa de Maria. Numa região onde faltam leitos obstetras, os 60 da maternidade do Itaim estão sendo ocupados.
Na semana passada, a Casa de Maria foi a primeira instituição do país a receber o Prêmio Nacional Amigas do Parto. Há vários anos, cresce no Brasil um movimento que agrupa profissionais de várias especialidades que defendem o parto humanizado.
"Faltam informações às mulheres", diz Mitsue Kuroki, enfermeira obstetra e gerente da Casa de Maria. "Quem passa por aqui traz as amigas. As casas de parto são o caminho mais saudável." Em alguns países da Europa, cerca de 40% dos partos são realizados com parteiras, em casa.


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