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SAÚDE/GASTROENTEROLOGIA
Gene indica quem tem mais risco de desenvolver úlcera
Hoje, os pacientes com diagnóstico de úlcera devem ser tratados imediatamente
Estudo inédito no Brasil avaliou os genes da bactéria H. pylori e conseguiu definir aqueles com mais potencial para provocar a doença
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de dois anos de estudos, pesquisadores do Hospital
das Clínicas de São Paulo descobriram três importantes indicadores de risco de o paciente
desenvolver úlcera. Os indicadores estão nos genes da bactéria Helicobacter pylori, causadora da doença. Com isso, a
médio prazo, os médicos poderão decidir com mais clareza
quais pacientes têm indicação
de tratamento imediata.
Isso porque atualmente somente as pessoas com a úlcera
já instalada no estômago são
encaminhadas para tratamento. Ainda não há um consenso
de abordagem clínica para as
pessoas que têm a bactéria mas
não possuem nenhuma lesão.
Os pesquisadores analisaram
a carga genética de uma parte
da bactéria H. pylori chamada
"ilha cag". É essa ilha que tem a
capacidade de causar doenças
como gastrite, úlcera e câncer
no estômago.
O estudo -inédito no Brasil- foi coordenado pela patologista Rejane Mattar. Segundo
ela, pelo menos 60% da população brasileira tem essa bactéria. "De 10% a 20% dessas pessoas vão desenvolver úlcera.
Cerca de 1% terão câncer. Os
demais podem ficar com a bactéria e não ter sintomas durante anos. Não é possível tratar
todo mundo", disse Rejane.
O tratamento dura cerca de
dez dias e inclui o uso de dois
antibióticos e um inibidor de
bomba de próton (que diminui
a acidez do estômago).
Os marcadores
Foram estudadas cepas da H.
pylori presentes em 215 pacientes: 150 com úlcera e 65 que não
tinham lesão.
Rejane separou a ilha cag e,
por meio de um exame de biologia molecular, estudou os genes separadamente. "As cepas
dos pacientes com úlcera tinham mais genes da ilha cag do
que as cepas dos pacientes com
endoscopia normal", afirmou.
Segundo o estudo, pacientes
que carregam a bactéria com o
gene cagT têm 27 vezes mais
risco de ter úlcera. Já os que
têm a bactéria com o gene
cagM têm o risco aumentado
em oito vezes, seguidos das pessoas com bactéria que tem o gene cagA, que têm 4,2 vezes
mais chances de ter úlcera.
O dado que mais chama a
atenção, segundo Rejane, é que
98% dos 150 pacientes com úlcera tinham a bactéria com o
gene cagT. Entre os pacientes
que não tinham lesão, 58%
também tinham a bactéria com
esse gene. "Essas pessoas, que
num primeiro momento não
seriam tratadas porque ainda
não têm lesão, têm indicação
de tratamento imediato."
Para a médica patologista
Dulciene Maria de Magalhães
Queiroz -especialista em H.
pylori -, chefe do laboratório
de Pesquisas em Bacteriologia
da Universidade Federal de Minas Gerais, o resultado do estudo é um avanço.
"Encontrar marcadores de
risco do H. pylori é a busca de
todos os pesquisadores. Isso
para o Brasil é fundamental
porque, no norte do país, por
exemplo, temos 90% das pessoas infectadas e não é possível
tratar todo mundo."
A única ponderação de Dulciene é que os marcadores de
risco não são "verdade absoluta". "Como tudo na medicina,
nada garante que se eu tratar
os pacientes com base nesses
marcadores eles nunca mais
terão a doença", disse. "Mas é
um avanço, sem dúvida."
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