São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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GILBERTO DIMENSTEIN

Museu do macarrão

A paixão de criança de Enrico Vezzani se converteu num sonho de adulto -criar um museu dedicado à massa

QUANDO ERA MENINO e morava em Milão, na Itália, Enrico Vezzani começou a desenvolver o hobby de colecionar antigas máquinas de fabricar massas. Acompanhava o seu pai, que tinha uma pequena fábrica de macarrão, aos antiquários e às lojas de ferro-velho, na busca de preciosidades. A paixão de criança se converteu num sonho de adulto -criar, em São Paulo, um museu dedicado ao macarrão.
"Não morro sem tirar esse projeto do papel", diz Enrico, agora com 62 anos.
Formado em engenharia de alimentos na Itália, Enrico planejava passar apenas três anos em São Paulo para instalar uma fábrica de equipamentos industriais. Para economizar dinheiro, manteve o hábito de ir a algum ferro-velho em busca de pechinchas. Ele próprio reciclava as máquinas. "Era como o meu pai em sua fábrica na Itália." E, assim, a criança aprendeu mecânica sem fazer força. O acaso o levaria de volta ao hobby familiar.

 

Os planos de volta de Enrico deram errado. Nunca mais conseguiu sair do Brasil -um país que conheceu, na década de 1950, por causa do futebol. "O nome do meu time na Itália era Santos. O Pelé entrou na minha vida com a televisão, na Copa de 1958."
Enrico foi descobrindo as mais diferentes máquinas de fazer massa, trazidas pelos imigrantes italianos -estavam jogadas, esquecidas, em algum ferro-velho. Outras vezes aproveitava-se da "quebra" de uma empresa para comprar, a baixo preço, alguma peça. Um de seus "troféus" é uma máquina, produzida em 1923, que foi de Matarazzo.
 

As peças iam sendo colocadas em ordem, na fábrica de Enrico, no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo. "É um museu improvisado." Uma de suas satisfações era ver que, apesar da quase clandestinidade, algumas pessoas queriam visitar a sua coleção, muitas para se lembrar dos antigos tempos das massas feitas em casa.
Toda essa desordem incomoda há muito tempo o engenheiro, acostumado à ordem. Pensou em doar todas as suas peças a algum museu, mas, pelo menos por enquanto, não descobriu quem tivesse interesse em recebê-las.
Só viu uma solução: criar um museu dedicado ao macarrão, onde também expusesse documentos sobre os italianos que vieram, como ele, para o Brasil.
 

Neste momento, Enrico está procurando um imóvel para instalar o museu. Ainda não o encontrou, mas, pelo menos, tem uma certeza: será no Bexiga, bairro que se notabilizou pelas cantinas italianas. Na década de 1970, quando chegou ao país para ficar apenas três anos, foi aquele bairro que o fez se sentir em casa, comendo o macarrão de sua infância.

gdimen@uol.com.br

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