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MASSACRE NO CENTRO
Muitos moradores de rua ainda evitam os estabelecimentos por causa das regras, como as de horário
Medo e frio fazem lotar os albergues
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cambaleante, com os olhos embaçados, um homem de cerca de
30 anos se aproxima do portão do
albergue Cirineu, no centro de
São Paulo, às 20h30.
Do lado de dentro, à sua espera,
uma mulher grita, nervosa, apontando o dedo para o recém-chegado: "Ô, João, você não some
não, viu? Porque estão matando
gente na praça da Sé e ninguém
sabe quem está fazendo isso. Eu
estava louca de preocupação,
achando que tinha acontecido alguma coisa com você." João é pego pelo braço e levado para dentro do albergue.
A cena ilustra bem o clima de
terror que tomou conta de uma
parcela de moradores da cidade.
Nas rodinhas, na sala de jantar e
nos corredores dos abrigos, o assunto é um só: os ataques sofridos
por moradores de rua na última
semana. Por conta dos atentados
e da queda na temperatura, os albergues ficaram lotados ontem à
noite. Alguns deles tiveram de improvisar colchões nos corredores.
"Depois que matarem todos os
que estão lá fora, vão entrar aqui
para pegar a gente", desesperava-se a ex-menina de rua Mônica dos
Santos, 26. "Eu tenho para mim
que são os tais dos "skinheads"." A
suspeita foi apontada à Folha por
outros moradores de rua.
Regras
A Polícia Militar promoveu na
noite de ontem uma operação para encaminhar moradores de rua
aos albergues da cidade. Aqueles
que se recusaram a ir foram
orientados a, pelo menos, dormir
próximo aos postos policiais espalhados pelo centro da cidade.
"Não quero ir para lá porque tenho de obedecer às regras deles",
afirma Severiano Fernandes Oliveira, 64, morador de rua há 20.
As tais regras realmente existem e
mudam um pouco de uma instituição para outra.
Segundo a secretária de Assistência Social, Aldaíza Sposati,
"muitos não querem ir para um
espaço que requer referências coletivas. Há problemas de comprometimento de saúde mental e do
hábito da rua".
Na parede de um dos albergues
visitados pela reportagem, placas
alertavam para as normas da casa:
"É proibido falar alto e gritar, fumar nas dependências internas,
desobedecer horários, tomar banho após as 22h e faltar com a higiene pessoal". Portar arma branca ou de fogo, agredir ou ameaçar
física ou verbalmente funcionários ou outros usuários pode ser
punido com o desligamento da
instituição. Há horário para buscar pertences deixados dentro do
albergue, jantar e deixar o local.
Pelas regras e por ter um filho de
11 meses que "os assistentes sociais do albergue querem levar para outra instituição", Reinaldo Pereira, 31, e sua mulher estão na
rua, mas não dormem de noite.
Colaborou o "Agora"
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