São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ambiente determina sobrevivência

DA REPORTAGEM LOCAL

Sílvia Guimarães, que perdeu o filho único de 3 meses em julho, mora com o marido na parte inferior de um sobrado invadido. Apesar de limpa, a casa tem as paredes e o teto cobertos de mofo, em razão da umidade.
"Acho que foi por isso que meu filho ficou doente", diz Sílvia. Do lado de fora, próximo à casa, há uma fossa sanitária a céu aberto. "Entre as maiores causas de morte de crianças entre 0 e 4 anos estão os componentes ambientais", diz o sanitarista Jorge Kayano.
Segundo ele, saneamento, moradia, higiene, alimentação e nível de instrução dos pais são fatores decisivos na sobrevivência dessas crianças. Outra grande arma contra a mortalidade infantil, especialmente em menores de 1 ano, é o aleitamento materno.
"Eu não amamentei Charles porque ele não pegava no peito", afirmou Sílvia. Segundo Lourdes Dilecta Giacomini, da Pastoral da Criança, a situação onde Sílvia mora seria pior se a entidade e a paróquia local não ajudassem.
"Nós fazemos visitas e ficamos de olho nas crianças, para evitar que elas fiquem desnutridas ou desidratadas. Damos multimistura, xaropes, e a igreja doa cestas básicas", disse Lourdes.
Os bebês são pesados uma vez por mês, e as mães recebem orientação sobre cuidados e higiene. "Das 20 crianças registradas na paróquia, apenas uma está desnutrida", afirma Lourdes.
Sílvia mora na Liberdade (centro de SP). Entre 94 e 99, o distrito teve uma redução de 84,8 para 51,4 mortes por cada 10 mil crianças entre 0 e 4 anos. Mas o índice ainda é considerado alto.
"Já que o ideal de nenhuma morte não existe, usamos como parâmetro o menor índice encontrado na cidade de São Paulo no ano passado: 1 criança morta em 10 mil", afirma Dirce Koga,que coordenou a confecção do Mapa da Exclusão.
De 98 para 99, segundo a Pastoral da Criança, houve um aumento de mais de 100% da mortalidade em favelas atendidas pela entidade na Grande São Paulo.
Para Lourdes, uma saída para a questão é a parceria entre a administração municipal e grupos que já trabalham com assistência à infância e conhecem as reais necessidades e problemas.
"O próximo prefeito não vai conseguir, sozinho, resolver muito", diz Kayano. (MV)




Texto Anterior: Crianças morrem mais em 29 distritos
Próximo Texto: Moacyr Scliar: Noites olímpicas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.