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Ambiente determina sobrevivência
DA REPORTAGEM LOCAL
Sílvia Guimarães, que perdeu o
filho único de 3 meses em julho,
mora com o marido na parte inferior de um sobrado invadido.
Apesar de limpa, a casa tem as paredes e o teto cobertos de mofo,
em razão da umidade.
"Acho que foi por isso que meu
filho ficou doente", diz Sílvia. Do
lado de fora, próximo à casa, há
uma fossa sanitária a céu aberto.
"Entre as maiores causas de morte de crianças entre 0 e 4 anos estão os componentes ambientais",
diz o sanitarista Jorge Kayano.
Segundo ele, saneamento, moradia, higiene, alimentação e nível
de instrução dos pais são fatores
decisivos na sobrevivência dessas
crianças. Outra grande arma contra a mortalidade infantil, especialmente em menores de 1 ano, é
o aleitamento materno.
"Eu não amamentei Charles
porque ele não pegava no peito",
afirmou Sílvia. Segundo Lourdes
Dilecta Giacomini, da Pastoral da
Criança, a situação onde Sílvia
mora seria pior se a entidade e a
paróquia local não ajudassem.
"Nós fazemos visitas e ficamos
de olho nas crianças, para evitar
que elas fiquem desnutridas ou
desidratadas. Damos multimistura, xaropes, e a igreja doa cestas
básicas", disse Lourdes.
Os bebês são pesados uma vez
por mês, e as mães recebem
orientação sobre cuidados e higiene. "Das 20 crianças registradas na paróquia, apenas uma está
desnutrida", afirma Lourdes.
Sílvia mora na Liberdade (centro de SP). Entre 94 e 99, o distrito
teve uma redução de 84,8 para
51,4 mortes por cada 10 mil crianças entre 0 e 4 anos. Mas o índice
ainda é considerado alto.
"Já que o ideal de nenhuma
morte não existe, usamos como
parâmetro o menor índice encontrado na cidade de São Paulo no
ano passado: 1 criança morta em
10 mil", afirma Dirce Koga,que
coordenou a confecção do Mapa
da Exclusão.
De 98 para 99, segundo a Pastoral da Criança, houve um aumento de mais de 100% da mortalidade em favelas atendidas pela entidade na Grande São Paulo.
Para Lourdes, uma saída para a
questão é a parceria entre a administração municipal e grupos que
já trabalham com assistência à infância e conhecem as reais necessidades e problemas.
"O próximo prefeito não vai
conseguir, sozinho, resolver muito", diz Kayano.
(MV)
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