São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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Garotas levam as irmãs mais novas para "programas"

DE SÃO PAULO

Elas catavam restos de frutas e verduras. Logo viraram produtos de um mercado sexual que atende os caminhoneiros da Ceagesp.
"As mais velhas, de 17, 18 anos, hoje já trazem as irmãs mais novas", constata Alcione Carvalho, presidente da Associação dos Profissionais do Sexo de São Paulo, que há dez anos faz trabalho de prevenção à Aids entre prostitutas e travestis da região.
As primeiras notícias de exploração sexual de crianças e adolescentes na região levaram à proibição da entrada de menores desacompanhados na Ceagesp.
"Os programas que aconteciam até debaixo do caminhão passaram a ocorrer dentro da boleia", diz Fabiana Gouveia, da Comissão Municipal de Enfrentamento à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.
"Tomamos medidas como limitar a entrada de pedestres a três portões, mas nossa segurança é patrimonial, não tem poder de polícia", diz Mario Maurici, da Ceagesp.
J.S., 12, conta que sempre dribla a fiscalização. Circula dentro dos muros com uma garrafa térmica. Vende doses de café a R$ 0,50. É a deixa para se oferecer. "Peço R$ 20, mas já fiz por R$ 10", diz a garota franzina e mulata, que mora na favela ao lado.
O valor final do programa equivale a duas pedras de crack ou a uma caixa de 20 kg de tomate Camem 1-A, o tipo mais barato das 293 toneladas vendidas por ano. Migalhas perto dos R$ 4,3 bilhões negociados ali em 2009.
As garotas que não conseguem entrar no entreposto fazem ponto nas esquinas da rua Aroaba, onde a Folha flagrou uma delas acertando um programa com um caminhoneiro, às 20h35 de uma terça-feira. Ela entra na boleia, apagam-se os faróis, e o programa acontece ali mesmo. Dura oito minutos.
Uma rotina que a reportagem flagrou ao longo dos últimos dois meses em horários e pontos distintos.
Florescem na região também inferninhos. "Eu não tenho esquema para entrar lá dentro [na Ceagesp], vim pra rua e agora tô trabalhando nas casas", relata Cláudia, como se apresenta uma jovem que diz ter 19 anos e há cinco ganha a vida na região.
"Tem muita menina que agora faz programa também para arranjar crack."
(ET)


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