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Garotas levam as irmãs mais novas para "programas"
DE SÃO PAULO
Elas catavam restos de frutas e verduras. Logo viraram
produtos de um mercado sexual que atende os caminhoneiros da Ceagesp.
"As mais velhas, de 17, 18
anos, hoje já trazem as irmãs
mais novas", constata Alcione Carvalho, presidente da
Associação dos Profissionais
do Sexo de São Paulo, que há
dez anos faz trabalho de prevenção à Aids entre prostitutas e travestis da região.
As primeiras notícias de
exploração sexual de crianças e adolescentes na região
levaram à proibição da entrada de menores desacompanhados na Ceagesp.
"Os programas que aconteciam até debaixo do caminhão passaram a ocorrer
dentro da boleia", diz Fabiana Gouveia, da Comissão
Municipal de Enfrentamento
à Exploração Sexual contra
Crianças e Adolescentes.
"Tomamos medidas como
limitar a entrada de pedestres a três portões, mas nossa
segurança é patrimonial, não
tem poder de polícia", diz
Mario Maurici, da Ceagesp.
J.S., 12, conta que sempre
dribla a fiscalização. Circula
dentro dos muros com uma
garrafa térmica. Vende doses
de café a R$ 0,50. É a deixa
para se oferecer. "Peço R$ 20,
mas já fiz por R$ 10", diz a garota franzina e mulata, que
mora na favela ao lado.
O valor final do programa
equivale a duas pedras de
crack ou a uma caixa de 20 kg
de tomate Camem 1-A, o tipo
mais barato das 293 toneladas vendidas por ano. Migalhas perto dos R$ 4,3 bilhões
negociados ali em 2009.
As garotas que não conseguem entrar no entreposto
fazem ponto nas esquinas da
rua Aroaba, onde a Folha flagrou uma delas acertando
um programa com um caminhoneiro, às 20h35 de uma
terça-feira. Ela entra na boleia, apagam-se os faróis, e o
programa acontece ali mesmo. Dura oito minutos.
Uma rotina que a reportagem flagrou ao longo dos últimos dois meses em horários
e pontos distintos.
Florescem na região também inferninhos. "Eu não tenho esquema para entrar lá
dentro [na Ceagesp], vim pra
rua e agora tô trabalhando
nas casas", relata Cláudia,
como se apresenta uma jovem que diz ter 19 anos e há
cinco ganha a vida na região.
"Tem muita menina que
agora faz programa também
para arranjar crack."
(ET)
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