|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI
Mais luz
Começou, no dia 16 de outubro, o horário de verão.
Mais uma vez, os brasileiros terão de acordar e dormir uma hora mais cedo. Sem entrar no mérito das vantagens em redução
do consumo, e das dificuldades
de adaptação a tamanha mudança no organismo de cada
um, seria interessante discutir o
modelo energético brasileiro.
O Brasil foi dotado, pela natureza, de um magnífico sistema
hídrico, um dos mais ricos do
mundo. Que deveria nos assegurar água para consumo doméstico, industrial e agrícola e para a
geração de energia.
Ocorre que, em cada segmento
desses, o Estado falhou e continua falhando. Permitiu-se, por
exemplo, em São Paulo, a ocupação desordenada do solo, com invasão das chamadas áreas de
mananciais. Não houve nenhum
planejamento urbano, com oferta de empregos, serviços e lazer a
fim de desconcentrar a população na capital paulista e nas cidades de seu entorno.
Resultado: nos anos em que a
chuva é escassa e mal distribuída, tem-se de apelar ao racionamento de água. Igual incompetência permeia a oferta de energia. Nos últimos anos, investiu-se
quase nada na geração de energia, em especial na proveniente
das chamadas energias alternativas -eólica (dos ventos), solar
(do sol), biomassa (vegetais) etc.
Em conseqüência desse descaso
e da insuficiência de chuvas, tivemos, em 2001, a ameaça do
apagão, ou seja, de blecautes em
horários de pico de consumo de
energia elétrica. O racionamento
de energia afetou duramente a
economia, pois as indústrias, governos e consumidores tiveram
de cumprir metas rígidas de redução do consumo.
Foi criado, então, o ECE (Encargo de Capacidade Emergencial) -mais conhecido como seguro-apagão-, taxa cobrada
mensalmente na conta de luz,
para financiar a construção de
usinas termelétricas, para impedir o racionamento de energia, e
para repor as perdas financeiras
impostas às concessionárias.
Os consumidores vêm pagando
esse seguro com a promessa de
que isso evitará novos racionamentos ou ameaças de apagão.
Por que, então, o Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS), divulgou, recentemente,
que há forte risco de insuficiência
de energia na região Nordeste,
em 2009?
Na época do racionamento de
energia, integrantes do partido
hoje no poder, inclusive o atual
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, debitaram a ameaça de
apagão à falta de planejamento
e de investimento do governo federal do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Imaginou-se que agiriam de
outra forma para evitar que tal
crise retornasse ao Brasil. Mas parecem fazer nova "economia inteligente", semelhante à que fizeram com os recursos para combater a febre aftosa - que pode
comprometer exportações de carne bovina de US$ 1 bilhão.
Para acabar com a desconfiança de que o dinheiro do seguro foi
usado para outros fins, o governo
tem de explicar:
- quanto foi arrecadado, até hoje, com o seguro-apagão;
- em que foi investida esta montanha de dinheiro;
- por que há ameaça de racionamento de energia na região
Nordeste;
- se faltam recursos públicos,
por que, neste governo, houve
uma espécie de reestatização da
área de energia?
Como Goethe, só pedimos
"mais luz".
E-mail -
midolci@yahoo.com.br
Texto Anterior: Reduto do "sim": Ex-líder do ranking condena arma Próximo Texto: Nudez castigada: Ensaio da "Playboy" gera polêmica em Ribeirão Preto Índice
|