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REFERENDO
Deputado diz que, se não conseguir outros patrocinadores, recorrerá à indústria de armamentos; dívida é de R$ 900 mil
"Não" cogita cobrar dívida de fábrica de arma
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado Alberto Fraga
(PFL-DF), que presidiu a frente
contrária à proibição do comércio
de armas de fogo, disse que, se
não conseguir outros patrocinadores, recorrerá às indústrias de
armamentos Taurus e CBC
(Companhia Brasileira de Cartuchos) para pagar a dívida de cerca
de R$ 900 mil da campanha.
A afirmação ocorreu um dia depois da ampla vitória do "não" no
referendo sobre a proibição da
venda de armas no país.
O deputado apontou que as empresas teriam interesse comercial
em quitar as faturas da campanha. Durante o debate eleitoral,
ele negou o apoio da indústria bélica à frente do "não".
"Se você me perguntar se eu tenho esse dinheiro hoje para pagar, não tenho. Agora eu vou buscar parcerias com algumas empresas. Se eu não conseguir, quem
vai ter de pagar essa conta vai ser a
CBC e a Taurus. Eu não tenho como pagar isso não, e eu não tenho
interesse comercial nisso."
Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tesoureiro da
campanha da frente pela proibição do comércio de armas, a fala
de Fraga reflete "um jogo de cartas marcadas".
A reportagem não conseguiu
ontem ouvir representantes da
Taurus e da CBC sobre o caso.
O deputado do PFL disse estar
preocupado com a dívida e destacou que o apoio da indústria não
era sua primeira opção. No total,
Fraga calcula que os custos de sua
frente chegaram a R$ 1,5 milhão.
"O que eu sei é que o que está lá
é o meu CPF, e eu não costumo
dar calote nos outros não. Então
eu não busquei apoio da CBC, da
indústria bélica, porque acho que,
na campanha, era desgastante. E
tenho certeza que o programa do
"sim" ia usar isso contra nós. Agora, se não entrarem recursos suficientes, eu vou lutar."
A reportagem perguntou novamente se a pressão seria por doações da indústria de armas. "Ou
então do [publicitário] Marcos
Valério, alguém vai ter de pagar,
eu não vou. Você acha que o Zé
Dirceu vai deixar? O melhor é ficar na Taurus", disse Fraga em
tom jocoso. "Se conseguir pagar a
dívida sem a presença ou a participação da indústria bélica, não
tenha dúvida que vou fazer.
A Taurus, em nota sobre o referendo, disse que a opção dos brasileiros pelo "não" é a reafirmação
do direito à legítima defesa.
"A vitória do "não" significa a
reafirmação, por parte dos cidadãos do nosso país, de um direito
consagrado na Constituição."
Durante todo o processo eleitoral, a Taurus não se manifestou.
O publicitário Chico Santa Rita,
responsável pela publicidade da
frente do "não", afirmou que a
campanha foi "absolutamente
franciscana". "Usamos apenas
duas câmeras externas." Disse
ainda que sua publicidade vingou
porque baseou-se na questão dos
direitos, sem focar a discussão diretamente nas armas.
Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência
Folha
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