São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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REFERENDO

Deputado diz que, se não conseguir outros patrocinadores, recorrerá à indústria de armamentos; dívida é de R$ 900 mil

"Não" cogita cobrar dívida de fábrica de arma

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado Alberto Fraga (PFL-DF), que presidiu a frente contrária à proibição do comércio de armas de fogo, disse que, se não conseguir outros patrocinadores, recorrerá às indústrias de armamentos Taurus e CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) para pagar a dívida de cerca de R$ 900 mil da campanha.
A afirmação ocorreu um dia depois da ampla vitória do "não" no referendo sobre a proibição da venda de armas no país.
O deputado apontou que as empresas teriam interesse comercial em quitar as faturas da campanha. Durante o debate eleitoral, ele negou o apoio da indústria bélica à frente do "não".
"Se você me perguntar se eu tenho esse dinheiro hoje para pagar, não tenho. Agora eu vou buscar parcerias com algumas empresas. Se eu não conseguir, quem vai ter de pagar essa conta vai ser a CBC e a Taurus. Eu não tenho como pagar isso não, e eu não tenho interesse comercial nisso."
Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tesoureiro da campanha da frente pela proibição do comércio de armas, a fala de Fraga reflete "um jogo de cartas marcadas".
A reportagem não conseguiu ontem ouvir representantes da Taurus e da CBC sobre o caso.
O deputado do PFL disse estar preocupado com a dívida e destacou que o apoio da indústria não era sua primeira opção. No total, Fraga calcula que os custos de sua frente chegaram a R$ 1,5 milhão.
"O que eu sei é que o que está lá é o meu CPF, e eu não costumo dar calote nos outros não. Então eu não busquei apoio da CBC, da indústria bélica, porque acho que, na campanha, era desgastante. E tenho certeza que o programa do "sim" ia usar isso contra nós. Agora, se não entrarem recursos suficientes, eu vou lutar."
A reportagem perguntou novamente se a pressão seria por doações da indústria de armas. "Ou então do [publicitário] Marcos Valério, alguém vai ter de pagar, eu não vou. Você acha que o Zé Dirceu vai deixar? O melhor é ficar na Taurus", disse Fraga em tom jocoso. "Se conseguir pagar a dívida sem a presença ou a participação da indústria bélica, não tenha dúvida que vou fazer.
A Taurus, em nota sobre o referendo, disse que a opção dos brasileiros pelo "não" é a reafirmação do direito à legítima defesa.
"A vitória do "não" significa a reafirmação, por parte dos cidadãos do nosso país, de um direito consagrado na Constituição."
Durante todo o processo eleitoral, a Taurus não se manifestou.
O publicitário Chico Santa Rita, responsável pela publicidade da frente do "não", afirmou que a campanha foi "absolutamente franciscana". "Usamos apenas duas câmeras externas." Disse ainda que sua publicidade vingou porque baseou-se na questão dos direitos, sem focar a discussão diretamente nas armas.


Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha


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