São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005

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Para institutos, "não" cresceu no final

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do voto de última hora explica a diferença entre o resultado do referendo e as pesquisas dos dois principais institutos do país -Datafolha e Ibope. A análise é compartilhada pelos diretores dos dois institutos.
Pesquisa do Datafolha feita na quinta e na sexta-feira da semana passada apontava que o "não" tinha naqueles dias 57% dos votos válidos. O levantamento do Ibope, realizado entre terça e quinta, flagrou o "não" com 55% dos votos. Nas urnas, o "não" obteve 64% dos votos válidos.
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, diz que é "um equívoco" a primeira tentação que acomete qualquer um que veja os três números -a de compará-los. "Seria um erro comparar o resultado do referendo com as pesquisas porque foram feitas em datas diferentes", afirma Paulino.
Os números só seriam comparáveis se o Ibope e o Datafolha tivessem feito pesquisa boca-de-urna -o que não aconteceu. Só esse gênero de levantamento, feito no mesmo dia da votação, pode ser comparado com o resultado do referendo.
As datas das entrevistas com os eleitores são importantes em qualquer pesquisa porque captam o momento. Mas no caso do referendo ganharam significado especial, segundo Márcia Cavalari, diretora do Ibope Opinião.
A diferença de dois ou três dias entre o levantamento dos institutos e a data do referendo é importante porque havia uma tendência de crescimento do "não", de acordo com Cavalari.
"O "não" cresceu mais na última hora. Foi como uma onda que aumenta mais quando vai chegando perto da praia", compara.
Essa tendência de crescimento, diz ela, pode ser visualizada quando se compara duas pesquisas do próprio Ibope.
Na primeira delas, feita após o início da campanha de rádio e TV sobre o comércio de armas de fogo, entre os dias 11 e 13 de outubro, o "não" tinha 52% dos votos. Uma semana depois, o índice dos que eram contra as restrições ao comércio de armas de fogo havia aumentado para 55%. "O Ibope não errou. Havia um crescimento do "não" que foi captado pelas pesquisas", afirma Cavalari.
Nesse tipo de referendo, a decisão é de última hora por causa do baixo grau de esclarecimento do eleitorado, na opinião da diretora do Ibope.
Segundo Paulino, em referendos o adiamento da decisão ocorre com mais intensidade do que nas eleições por causa da complexidade do assunto. "Cada vez mais os eleitores decidem o voto na última hora. Não é justo cobrar dos institutos que prevejam o futuro. Eles captaram a tendência crescente do "não"", diz.
A decisão de última hora não é, segundo Cavalari, a consagração de um comportamento do tipo "Maria vai com as outras", segundo o qual o eleitor segue o voto que está na dianteira nas pesquisas. "Não foi isso que ocorreu. É que o eleitor demora para consolidar a sua decisão."
Esse comportamento é reforçado por dois fatos -os institutos fizeram poucas pesquisas e o tempo de campanha foi curto. "É por isso que ficou a impressão de que o voto mudou muito", diz ela.


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