|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para institutos, "não" cresceu no final
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do voto de última hora explica a diferença entre o resultado do referendo e as pesquisas dos dois principais institutos
do país -Datafolha e Ibope. A
análise é compartilhada pelos diretores dos dois institutos.
Pesquisa do Datafolha feita na
quinta e na sexta-feira da semana
passada apontava que o "não" tinha naqueles dias 57% dos votos
válidos. O levantamento do Ibope, realizado entre terça e quinta,
flagrou o "não" com 55% dos votos. Nas urnas, o "não" obteve
64% dos votos válidos.
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, diz que é "um equívoco" a
primeira tentação que acomete
qualquer um que veja os três números -a de compará-los. "Seria
um erro comparar o resultado do
referendo com as pesquisas porque foram feitas em datas diferentes", afirma Paulino.
Os números só seriam comparáveis se o Ibope e o Datafolha tivessem feito pesquisa boca-de-urna -o que não aconteceu. Só
esse gênero de levantamento, feito no mesmo dia da votação, pode
ser comparado com o resultado
do referendo.
As datas das entrevistas com os
eleitores são importantes em
qualquer pesquisa porque captam o momento. Mas no caso do
referendo ganharam significado
especial, segundo Márcia Cavalari, diretora do Ibope Opinião.
A diferença de dois ou três dias
entre o levantamento dos institutos e a data do referendo é importante porque havia uma tendência de crescimento do "não", de
acordo com Cavalari.
"O "não" cresceu mais na última
hora. Foi como uma onda que aumenta mais quando vai chegando
perto da praia", compara.
Essa tendência de crescimento,
diz ela, pode ser visualizada quando se compara duas pesquisas do
próprio Ibope.
Na primeira delas, feita após o
início da campanha de rádio e TV
sobre o comércio de armas de fogo, entre os dias 11 e 13 de outubro, o "não" tinha 52% dos votos.
Uma semana depois, o índice dos
que eram contra as restrições ao
comércio de armas de fogo havia
aumentado para 55%. "O Ibope
não errou. Havia um crescimento
do "não" que foi captado pelas pesquisas", afirma Cavalari.
Nesse tipo de referendo, a decisão é de última hora por causa do
baixo grau de esclarecimento do
eleitorado, na opinião da diretora
do Ibope.
Segundo Paulino, em referendos o adiamento da decisão ocorre com mais intensidade do que
nas eleições por causa da complexidade do assunto. "Cada vez
mais os eleitores decidem o voto
na última hora. Não é justo cobrar
dos institutos que prevejam o futuro. Eles captaram a tendência
crescente do "não"", diz.
A decisão de última hora não é,
segundo Cavalari, a consagração
de um comportamento do tipo
"Maria vai com as outras", segundo o qual o eleitor segue o voto
que está na dianteira nas pesquisas. "Não foi isso que ocorreu. É
que o eleitor demora para consolidar a sua decisão."
Esse comportamento é reforçado por dois fatos -os institutos
fizeram poucas pesquisas e o tempo de campanha foi curto. "É por
isso que ficou a impressão de que
o voto mudou muito", diz ela.
Texto Anterior: "Sim" diz que vai passar o chapéu Próximo Texto: Urna em Seringal do Acre atrasa totalização Índice
|