São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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MOACYR SCLIAR

A esposa imaginária (e ideal)



De fracasso em fracasso, chegou à conclusão de que as mulheres não se interessavam por ele
Homens comprometidos são mais assediados por mulheres, diz estudo publicado na revista "New Scientist". Melissa Burkley e Jessica Parker, da Universidade de Oklahoma, entrevistaram 184 estudantes universitários de ambos os sexos. Disseram aos voluntários que um programa de computador os ajudaria a encontrar o "par ideal". Para metade dos participantes, foi dito que esse "par ideal" era solteiro, e para a outra metade, que era comprometido. O resultado mais surpreendente ocorreu com as respostas de mulheres solteiras. Quando foi oferecido um homem solteiro, 59% afirmaram-se interessadas em um relacionamento. Mas, quando era comprometido, a percentagem aumentava para 90%. Os homens eram mais insistentes na busca por novos pares, mas não demonstravam preocupação em saber se as mulheres eram comprometidas ou não.
FOLHA.COM

Solteiro, 38 anos, bom emprego, apartamento próprio. Ele não podia, contudo, considerar-se bem-sucedido com o sexo feminino. Talvez por não ser exatamente um homem bonito, talvez por causa da timidez e da ansiedade. O certo é que frequentar os lugares habituais não lhe proporcionava resultados entusiasmantes.
Tinha um ou outro caso, mas nada que correspondesse ao ideal de uma paixão arrebatadora. De fracasso em fracasso, chegou à desanimadora conclusão de que as mulheres não se interessavam por ele. Por quê? Não conseguia encontrar uma resposta satisfatória, até ler o artigo sobre uma pesquisa americana. Que chegava a uma conclusão surpreendente: as mulheres estavam mais interessadas em homens comprometidos.
Ora, ele sempre pensara o contrário. Tanto que, logo no primeiro encontro, declarava-se livre e totalmente desimpedido. Imaginava que isso servisse como atrativo mas, agora constatava, estava equivocado. De modo que tratou de mudar de estratégia. E, para isso, bolou uma esposa imaginária.
Da qual falava tão logo marcava encontro com uma nova mulher. Júlia, essa mítica esposa, era uma mulher de 32 anos, linda, inteligente, uma arquiteta bem-sucedida; a companheira ideal.
Isso, dizia, se fosse companheira. Não o era. Pessoa egoísta, não dava bola para o marido, tinha ligações com outros homens; enfim, infernizava-lhe a vida.
Ele só não se divorciava porque a mãe -muito religiosa- pedira-lhe que não o fizesse. E assim ele ia levando sua penosa existência, buscando outras mulheres que talvez pudessem compreender e amenizar a sua desgraça.
Essa história fazia enorme sucesso e mudou sua vida. Agora, e tal como sugerido no trabalho, choviam mulheres. Ele estava até pensando em escrever para as autoras, agradecendo-lhes e dando seu testemunho pessoal. Mas aí um inesperado encontro resultou catastrófico.
Era uma mulher que ele encontrou por acaso, em um bar. Olharam-se, uma imediata afinidade surgiu entre eles, começaram a conversar. Então, deu-se conta de que estava perdido.
Primeiro, porque sentia-se irremediavelmente apaixonado. Depois, porque a moça chamava-se Júlia, tinha 32 anos, era linda, inteligente, uma arquiteta bem-sucedida e, pior que tudo, considerava-se a companheira ideal.


MOACYR SCLIAR escreve nesta coluna, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas no jornal.
moacyr.scliar@uol.com.br


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