São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010

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Rua onde Lula morou em 1956 ainda alaga

Endereço em que presidente viveu com a mãe na Vila Carioca ficou inundado na semana passada, o que não ocorria havia mais de 20 anos

Em outra rua em que Lula viveu, a Padre Mororó, na cidade de São Caetano, os moradores são vítimas das cheias ainda hoje

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O endereço na rua Auriverde, Vila Carioca (zona sul), onde o presidente Lula viveu com a mãe, dona Lindu, e os irmãos, quando, saindo de Santos, chegou a São Paulo, em 1956, não enchia havia mais de 20 anos. A canalização do rio Tamanduateí conseguiu evitar a rotina de inundações que transtornavam o bairro. Mas encheu na semana passada. As chuvas de quarta e quinta quebraram o jejum.
Ontem, quando descreveu as enchentes que enfrentou em São Paulo, Lula lembrou-se de, trabalhando nos Armazéns Gerais Columbia, então entreposto de fardos de algodão, muitas vezes não conseguir chegar ao local porque a av. Presidente Wilson enchia -"obviamente que gostava porque não tinha de trabalhar naquele dia", disse.
A Folha chegou ao endereço que foi casa do menino Lula, bem defronte aos galpões que já foram do Instituto Brasileiro do Café e que agora pertencem à Receita Federal. Encontrou um primo de dona Lindu, que até hoje vive no imóvel. Ele não quis identificar-se, por receio de que pareça estar se promovendo à custa do parente famoso. Marceneiro, Lula o chama de "tio" (a última vez que se viram foi na pré-estréia do filme "Lula, o Filho do Brasil", em São Bernardo, há dois meses).
O tio reformou a casa três vezes. Foi lá que criou os filhos. Hoje, é modesta e confortável.
Na semana passada, as águas subiram muito, a ponto de interditar a Auriverde, bem na esquina do endereço que já foi de Lula. "Parecia que a gente tinha voltado no tempo", disse.
A Folha refez o caminho que Lula percorria diariamente até os prédios antes ocupados pelos armazéns. Ficam a cinco quarteirões da casa, bem perto da linha de trem e da estação Tamanduateí da EMTU.
Hoje, o local é ocupado pela Revendedora de Tubos de Aço Omega, que na semana passada perdeu para as águas 12 computadores, 14 nobreaks, todo o sistema de telefonia. "O aguaceiro subiu mais de metro", disse o dono, Paulo José Soares de Carvalho, 45. "Mas o pior são os tubos. Ficou tudo oxidado -prejuízo de R$ 500 mil."
O vigia e porteiro Walter Fernandes, 59, Rosana Lopes, 29, moradora do bairro desde que nasceu, Rodrigo Rodrigues, 28, gerente comercial, há dez anos trabalhando na Presidente Wilson, responsabilizam a construção da nova estação do Metrô, a Tamanduateí.
"Taparam o caminho das águas da chuva, que iam pro rio. Construíram um tapume e um aterro no caminho das águas, que ficam represadas. Nos fizeram recuar 20 anos, reviveram as enchentes e o pavor", disse Rodrigues.
Em nota, o Metrô negou que a obra tenha agravado as enchentes: "A área anteriormente ocupada por galpões hoje é coberta por brita, o que facilita o processo de infiltração". Segundo a empresa, um reservatório retém a água, que é lançada gradativamente no rio.
No discurso que proferiu ao receber a medalha 25 de Janeiro, Lula fez menção a outra casa em que morou, perto da divisa com São Caetano: "Mudei para uma casa novinha, (...) cheirava a tinta, isso em junho.
Em dezembro e janeiro peguei três enchentes, de entrar um metro e meio dentro de casa".
A casa em que Lula morou foi demolida. Ficava a 50 metros do ribeirão dos Meninos, na rua hoje chamada de Padre Antonio de Gennaro. Perguntou-se ao pedreiro e líder comunitário Oliver Costa, 63, se a rua ainda é vítima de enchentes. Ele apontou para a comporta de ferro de um metro de altura que acabou de instalar no portão de sua casa, para evitar a entrada das águas.
Lula lembrou que "ia dando enchente, a gente ia jogando cascalho na rua e as casas iam ficando para baixo". "Fui eu quem mandou pôr", disse Costa. "Senão a rua ficava intransitável." Tanto cascalho foi colocado, que a rua chegou até o nível do segundo pavimento das casas. "O jeito foi encher o primeiro pavimento de entulho.
Só aqui em casa, foram colocados 72 caminhões de entulhos." Hoje, ele ocupa o andar superior (mesma providência adotada pelos vizinhos).
Em outra rua em que Lula viveu, a Padre Mororó, em São Caetano, os moradores são vítimas das cheias ainda hoje. Segundo a prefeitura, as águas não chegam mais a 1,5 m de altura, como disse Lula em seu discurso, mas as enchentes ali ainda não foram solucionadas.


Colaboraram EVANDRO SPINELLI e VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO, da Reportagem Local

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