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Propina a policiais é antiga, indica escuta
Gravações da PF sugerem que presidente-executiva da Associação Brasileira de Bingos fazia acertos de longo prazo com investigadores
Numa conversa, policial fala em "negócio (...) que a senhora acertou dois anos atrás"; dirigente afirma que policiais recebiam por bicos
MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente-executiva da
Abrabin (Associação Brasileira
dos Bingos), a advogada Danielle Chiorino Figueiredo, fazia
acertos de longo prazo com policiais civis, como sugere uma
conversa dela com um investigador registrada pela Polícia
Federal durante a preparação
da Operação Têmis.
Em outra conversa, também
monitorada pela PF com autorização judicial, a advogada
aparece falando em "parceria"
com investigadores da 5ª Delegacia Seccional, que controla os
distritos policiais da zona leste
de São Paulo. Nessa conversa, o
interlocutor, um funcionário
de bingo, diz que "esse mês aqui
[janeiro passado] não passou
ninguém lá do Deic" -Deic é
delegacia especializada em
roubos.
Acerto e parceria devem ser
um eufemismo para propina,
segundo interpretação de dois
delegados da própria Polícia
Civil ouvidos pela Folha com a
condição de que seus nomes
não fossem revelados.
A Folha revelou na quinta-feira que a presidente-executiva da Abrabin conversou com
um investigador da 3ª Delegacia Seccional, responsável pela
zona oeste, sobre o pagamento
de "um zero zero", o que é interpretado por alguns policiais
como sendo R$ 100 mil.
Danielle refuta. De acordo
com ela, o "um zero zero" era
R$ 100, valor que era pago ao
investigador para cuidar da segurança de um bingo.
O aparente acerto de longo
prazo é citado em um diálogo
de 6 de fevereiro entre a advogada da Abrabin e um investigador chamado Ricardo, que à
época estava no 9º DP.
"O pessoal aqui que sempre
vem todo mês aqui, pegar o negócio, aqui de perto, lembra,
que a senhora acertou dois
anos atrás?", pergunta.
Danielle diz que não entendeu o português tortuoso do
investigador.
Ricardo tenta se explicar novamente: "O pessoal do 9º [DP]
aqui... que acertaram valores
há um ano e meio atrás, mais
ou menos..."
A advogada entende: "O que
tem?" , pergunta.
"Eles querem falar com a senhora de novo (...). Trocou lá...
os investigadores".
Aparentemente, a razão do
telefonema era a mesma do investigador da 3ª Delegacia Seccional que ligara para a advogada em janeiro. Tinha ocorrido
uma mudança na Secretaria de
Segurança com a posse do governador José Serra (PSDB), e
os policiais queriam saber o
quanto receberiam para não
incomodar os bingos, já que há
dúvidas sobre a legalidade dessas casas de jogo.
O 9º Distrito Policial é o
mesmo no qual os policiais militares tiveram dificuldade para
registrar um boletim de ocorrência para relatar que haviam
encontrado R$ 38 mil em dinheiro e supostas anotações de
pagamento de propinas de donos de caça-níqueis a delegacias e investigadores.
Essa documentação foi encontrada no carro acidentado
do advogado Jamil Chokr. Vinte investigadores foram afastados porque seus nomes aparecem na lista do advogado. O
acidente foi em 25 de maio.
Notificação
Numa outra ligação, de 16 de
março, a advogada da Abrabin
conversa com Alexandre, aparentemente um funcionário do
bingo São Paulo, da zona leste.
Ele informa a Danielle que
recebeu uma notificação para
depor no 56º DP. "Ele [o investigador do 56º DP] veio junto
com dois rapaz da seccional pra
acompanhá-los, né? É... são
dois investigadores, um chamado João, outro Cido, é... dizendo que a gente ainda não
tem (...) nenhuma parceria com
eles. Eles são da 5ª Seccional.
Deixaram o telefone aqui também", informa Alexandre.
Danielle diz que é para passar
o telefone por fax, que ela entrará em contato com os investigadores.
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