São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Indústria do fumo patrocina ações, diz Serra

Para governador, fabricantes de cigarro estão por trás do combate à lei antifumo, parcialmente suspensa na Justiça

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na primeira declaração pública depois das duas decisões que suspendem parte da lei antifumo, o governador José Serra (PSDB) disse ontem que as sucessivas liminares pedidas à Justiça por associações de bares e restaurantes são patrocinadas pela indústria do cigarro.
"Quem está dando essa batalha não é a associação de bares e restaurantes, gente que representa menos de 1% da suposta categoria. Quem está contra, por trás disso, é a indústria do cigarro. São eles que estão por trás dessa onda. Este é o adversário", disse ela na formatura de agentes da Vigilância Sanitária que fiscalizam a lei antifumo.
"[As associações] Estão apresentando formalmente [liminares], mas na verdade estão trabalhando para a indústria. Quem é prejudicado pela diminuição do fumo? É a indústria que tem lucros a partir daí."
Levantamento feito pela ACT (Aliança de Controle do Tabagismo) mostra que a Souza Cruz deu R$ 12 milhões em patrocínio entre 2007 e 2008 para associações patronais de bares, hotéis e restaurantes.
Entre as que receberam dinheiro estão a Abresi (Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo), a Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) e até uma empresa de Percival Maricato, advogado que entrou com ações contra a lei de Serra até no Supremo Tribunal Federal.
A Abresi, que conseguiu em primeira instância suspender a proibição ao fumódromo e a aplicação de multas, negou representar ou receber dinheiro da indústria. "Nunca recebi um real sequer. E desafio que provem o contrário. Vou processar. Nunca recebi dinheiro da Souza Cruz", disse Marcus Vinícius Rosa, diretor da Abresi e autor das ações na Justiça.
Confrontado com relatório da própria Souza Cruz, que mostra patrocínios e doações em 2006 e 2007, Rosa recuou: "Isso realmente é verdade. Não tinha conhecimento disso. Fui pego de surpresa."
Percival Maricato, que aparece na lista da Souza Cruz por meio da empresa PM Maricato Aperfeiçoamento Profissional, diz ter recebido R$ 20 mil, gastos em workshops sobre direito trabalhista e sobre como montar bares e restaurantes.
"Desse dinheiro não entrou nenhum tostão no meu bolso. Não acho que o governador possa dizer que a honra de uma pessoa tenha esse preço. Ele está errado e os juízes vão dizer isso a ele", disse Maricato.


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