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Maioria toma remédio sem precisar
enviado especial a Santiago do Chile
Quase 60% de um grupo de 563
paulistanos que usaram medicamentos para emagrecer não precisariam nem deveriam ter tomado
droga alguma. Outros 25% poderiam ter perdido peso usando outros recursos que não o remédio.
Quase 70% deles tomaram os
medicamentos por mais tempo do
que aconselham as sociedades médicas do Canadá e da Comunidade
Européia.
Essas são algumas das conclusões de um estudo preliminar
apresentado no encontro regional
sobre o uso de anoréticos que a
Organização Mundial da Saúde, a
Opas e as Nações Unidas realizaram esta semana em Santiago do
Chile.
O levantamento sobre anfetaminas vem sendo realizado por pesquisadores do Cebrid, um centro
de estudos de droga e dependência
ligado à Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
O estudo já compilou os dados
de 563 entrevistados que frequentam os grupos Vigilantes do Peso
em São Paulo.
Outras 2.000 entrevistas já foram
feitas e um número ainda maior
será realizada em várias capitais.
Solange Nappo, pesquisadora
do Cebrid e coordenadora do trabalho, diz que mais de 90% dos
entrevistados são mulheres, pois
esta é a proporção dos que frequentam as reuniões dos grupos
de Vigilantes do Peso.
"Aqui está uma prova de que o
problema dessas pessoas não é de
saúde, mas sim a busca de uma
imagem corpórea tida como a
ideal", diz a pesquisadora.
Fórmulas
De todos os entrevistados que já
tinham utilizado drogas -cerca
de 65% do total-, 63% afirmaram ter tomado combinações preparadas em farmácias magistrais,
onde é maior o risco de mistura de
substâncias.
Na média, essas pessoas já haviam feito três tratamentos para
perder peso. Vários relataram ter
realizado entre cinco e nove tratamentos.
Entre os que estavam tomando
drogas, 13,5% tinham um índice
de massa corpórea (IMC) inferior
a 25, o que significa que estavam
dentro do peso. Outros 20,7% tinham o IMC entre 25 e 27, necessitando apenas de mudanças na dieta. Cerca de 25% estavam entre 27
e 30, excesso que poderia ser perdido com exercícios e mudanças
na alimentação.
Segundo Solange Nappo, apenas
40% do que estavam sendo medicados deveriam estar recebendo
drogas, e ainda assim apenas como tratamento auxiliar.
Descuido médico
Numa pesquisa anterior, o Cebrid contatou homens e mulheres
que passaram por 71 consultas em
clínicas de emagrecimento de São
Paulo e 36 em clínicas do Recife.
Segundo Solange, todas as pessoas tinham o IMC abaixo de 27,
logo, não deveriam tomar medicamentos.
Nas 71 consultas feitas em São
Paulo, 63 pacientes saíram com
receitas, 57 delas com associações
para ser aviadas em farmácia de
manipulação. No Recife, das 36
consultas, 29 terminaram com a
prescrição de drogas.
Segundo Solange, só 44% dos
médicos de São Paulo e 38% do
Recife perguntaram aos pacientes
se tinham problemas cardiovasculares ou de pressão arterial.
Um número parecido -37% em
São Paulo e 41% no Recife- perguntou sobre diabetes. Em todos
esses casos, os anoréticos devem
ser evitados.
Menos de 5% dos médicos perguntaram se o paciente tinha problemas com álcool e drogas. Seu
uso indica que pode ter um risco
aumentado de dependência se vier
a tomar anoréticos.
Apenas 6% dos médicos tinham
recomendado a seus pacientes que
não aumentassem a dose dos medicamentos, prática adotada com
frequência. E menos de 1% dos
profissionais tinha advertido os
pacientes sobre as reações adversas das drogas que iriam tomar.
"O estudo concluiu que as pessoas saíam do consultório sem nenhuma orientação", afirmou Solange. Segundo ela, a descaso retratado no estudo reflete o perfil
de clínicas que proliferaram nos
grandes centros até três anos
atrás. Ela acredita que a postura
dos médicos tenha atualmente
mudado bastante.
(AB)
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