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REMÉDIOS FALSOS
Informado em janeiro, órgão federal chegou a avisar secretaria estadual sobre Androcur falso só em julho
Vigilância perde meses para divulgar fraude
RANIER BRAGON
em Belo Horizonte
A Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde demorou meses para comunicar alguns Estados de
que havia um lote falso do remédio
Androcur sendo vendido em larga
escala no país.
Por conta disso, a localização e
apreensão de frascos falsificados
foi adiada, enquanto doentes de
câncer na próstata tomavam medicamento que, em lugar do princípio ativo, trazia apenas um composto de farinha. Há suspeita de
que pelo menos oito pacientes tiveram sua morte acelerada pelo
uso de comprimidos inócuos.
Em alguns casos, como o do Rio,
não há registro de que o alerta sobre a falsificação tenha sequer sido
feito pelo governo federal. No
Amazonas, só este mês chegou comunicado sobre a falsificação -o
que demonstra que os problemas
da Vigilância Sanitária vão além da
dupla função exercida por funcionários, que gerou a substituição da
secretária Marta Nóbrega.
O laboratório Schering do Brasil
(não confundir com a Schering-Plough), que fabrica o Androcur, recebeu a primeira denúncia sobre falsificação do remédio
em janeiro, vinda de um paciente
do Rio. Constatou que os frascos
falsos eram do lote 351, que nunca
produziu, e que aqueles comprimidos não serviam para nada.
A empresa afirma que notificou a
Secretaria Nacional de Vigilância
Sanitária no dia 27 de janeiro.
Em Minas Gerais, a notícia só
chegou em 16 de fevereiro e não
por comunicado federal. Segundo
o superintendente da Vigilância
Sanitária de Minas Gerais, Júlio
César Siqueira, o órgão ficou sabendo da falsificação graças a um
alerta da Secretaria da Saúde do
Rio Grande do Sul.
O governo gaúcho havia descoberto a fraude ao receber comunicado da Schering em 12 de fevereiro e constatar que, cinco dias antes, havia recebido 7.500 frascos
fraudados, comprados da distribuidora Ação, de Belo Horizonte.
A Secretaria da Saúde gaúcha
ainda se deu ao trabalho de informar a fraude ao ministério no dia
seguinte, pedindo o número do registro do remédio. Segundo Marinon Porto, secretário da Saúde, a
resposta desse ofício chegou após
um mês -em 13 de março.
O Paraná também ficou sabendo
do lote falso pela Schering, no dia
28 de fevereiro. A comunicação da
Vigilância Sanitária nacional só
chegou em março-a assessoria
de imprensa da Secretaria da Saúde paranaense não soube precisar
a data exata.
No Amazonas, a notícia sobre
falsificação chegou primeiro pelos
jornais. Só no dia 8 de julho a Susam (Superintendência de Saúde
do Amazonas) recebeu da Coordenadoria de Controle de Qualidade
do Ministério da Saúde uma lista
de 65 produtos que vêm sendo falsificados no país. Entre eles estava
o Androcur, segundo Castelo
Branco, assessor da Susam.
A Vigilância Sanitária de Campo
Grande (MS) recebeu a ordem de
apreensão do lote falsificado mais
de três meses depois (dia 8 de
maio) de a Vigilância Sanitária federal ter sido informada do caso.
O chefe da Vigilância Sanitária
municipal, Antônio Carlos Cardoso, disse que, a exemplo de outros
casos do gênero, a ordem de
apreensão foi enviada primeiro à
Vigilância Sanitária da Secretaria
de Estado de Saúde, que se encarrega de repassar o comunicado às
prefeituras onde há Vigilância municipal em funcionamento.
Em São Paulo, a Schering avisou
em 28 de janeiro a Vigilância estadual, que só tomou providências
duas semanas depois.
Outro lado
A Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da
Saúde foram procurados de quarta a sexta-feira, mas não se pronunciaram sobre a demora na difusão da informação sobre o Androcur falso.
Colaboraram a Agência Folha, a Sucursal do Rio
e a Reportagem Local
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