São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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INTOLERÂNCIA

Desempregado foi agredido em Cotia; para pastoral, há risco de multiplicação de ataques

Com 1 mês de rua, homem é espancado

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Há três meses, José perdeu o emprego. Há 30 dias, a casa. No sábado, na rua, quase se foi o que resta: o cobertor e a vida.
Espancado por dois desconhecidos, o piauiense de 48 anos tem hematomas pelo corpo, o maxilar deslocado e a audição prejudicada.
A agressão aconteceu na praça Joaquim Nunes, no centro de Cotia (Grande SP). "Eles puxaram meu cobertor e me chutaram sem parar", narra José. "Só sei que eram dois e que estavam de roupa escura", prossegue.
José desmaiou. Às 9h de domingo foi encontrado por Rosiglei Rabelo, 27, o Querubim, voluntário da Pastoral da Rua da Diocese de Osasco, que distribui comida aos moradores de rua.
"Ele estava sangrando, mas eles têm medo de falar e sofrer represália", diz Querubim, que levou José a um pronto-socorro.
José diz que não brigou com ninguém. "Sou trabalhador. Não sou da rua. Só estou aqui porque estou passando fome e não tenho onde dormir", diz ele. Demitido de uma empresa de lixo, José não pôde pagar R$ 150 por um quarto com água e luz.
Para a pastoral, ele pode ser a primeira vítima de um assustador círculo vicioso. "Não vejo nenhum elo entre este caso e os de São Paulo. O que nós tememos é que ele seja vítima de uma onda, de um modismo. Coisa de gente que ouviu falar e resolveu fazer igual", diz Antônio Carlos Calunga, 31, também agente da pastoral.
O último episódio do tipo que chegou ao conhecimento da pastoral ocorreu três anos atrás.
Ontem, Calunga levou José à delegacia. Por algumas noites, ele dormirá no comitê de um candidato à prefeitura da cidade. Depois, voltará para a rua.


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