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INTOLERÂNCIA
Desempregado foi agredido em Cotia; para pastoral, há risco de multiplicação de ataques
Com 1 mês de rua, homem é espancado
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há três meses, José perdeu o
emprego. Há 30 dias, a casa. No
sábado, na rua, quase se foi o que
resta: o cobertor e a vida.
Espancado por dois desconhecidos, o piauiense de 48 anos
tem hematomas pelo corpo, o
maxilar deslocado e a audição
prejudicada.
A agressão aconteceu na praça
Joaquim Nunes, no centro de
Cotia (Grande SP). "Eles puxaram meu cobertor e me chutaram sem parar", narra José. "Só
sei que eram dois e que estavam
de roupa escura", prossegue.
José desmaiou. Às 9h de domingo foi encontrado por Rosiglei Rabelo, 27, o Querubim, voluntário da Pastoral da Rua da
Diocese de Osasco, que distribui
comida aos moradores de rua.
"Ele estava sangrando, mas
eles têm medo de falar e sofrer
represália", diz Querubim, que
levou José a um pronto-socorro.
José diz que não brigou com
ninguém. "Sou trabalhador.
Não sou da rua. Só estou aqui
porque estou passando fome e
não tenho onde dormir", diz ele.
Demitido de uma empresa de lixo, José não pôde pagar R$ 150
por um quarto com água e luz.
Para a pastoral, ele pode ser a
primeira vítima de um assustador círculo vicioso. "Não vejo
nenhum elo entre este caso e os
de São Paulo. O que nós tememos é que ele seja vítima de uma
onda, de um modismo. Coisa de
gente que ouviu falar e resolveu
fazer igual", diz Antônio Carlos
Calunga, 31, também agente da
pastoral.
O último episódio do tipo que
chegou ao conhecimento da
pastoral ocorreu três anos atrás.
Ontem, Calunga levou José à
delegacia. Por algumas noites,
ele dormirá no comitê de um
candidato à prefeitura da cidade.
Depois, voltará para a rua.
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