São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Para preso, padre Júlio não praticou pedofilia

"Ele é um homem de Deus", diz único preso pela suposta extorsão contra o religioso

Everson dos Santos Guimarães também disse que foi espancado por policiais quando foi preso e que recebeu tapa do padre

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Everson dos Santos Guimarães, algemado, durante entrevista realizada ontem na penitenciária


DA REPORTAGEM LOCAL

Única pessoa presa até agora sob acusação de extorquir o padre Júlio Lancelotti, 58, o faxineiro Everson dos Santos Guimarães disse ontem à Folha, no CDP (Centro de Detenção Provisória) 1 do Belém (zona leste de SP), que "nunca viu nenhuma ação que indicasse" que o religioso praticou corrupção de menores ou pedofilia, como a polícia diz investigar agora.
"Ele é um homem de Deus", disse Guimarães, preso desde 6 de setembro acusado de ajudar o ex-interno da Febem (atual Fundação Casa) Anderson Marcos Batista, 25, e sua mulher, Conceição Eletério, 44, a extorquir mais de R$ 80 mil do padre nos últimos três anos. Assim como Evandro, 28, irmão de Guimarães, o casal é procurado pela polícia.
Com as mãos algemadas para trás e na sala do diretor do CDP 1 do Belém, Guimarães afirmou que, entre junho e setembro (quando foi preso), e a mando de Batista, buscou ao menos cinco vezes envelopes com grandes quantias de dinheiro nos locais em que o ex-interno da Febem pedia para ele encontrar o religioso.
"Era sempre muito dinheiro. Dava para perceber por causa do volume. Teve vezes em que ele dava R$ 15 mil, R$ 30 mil. A única vez que veio menos dinheiro foi a última, quando fui preso, e tinha R$ 2.000", disse Guimarães, que era faxineiro na pensão arrendada por Batista na zona leste de São Paulo. O dinheiro era sempre dividido em maços de R$ 1.000.
Guimarães disse que o padre ia atrás de Batista "quase que todos os dias" e que quando o religioso não o localizava "ficava nervoso" "Quando ele [Lancelotti] não ia lá na pensão, ele ligava para saber dele [Batista]. Ele vivia atrás do Anderson."
Em uma das vezes em que foi encontrar Lancelotti para buscar dinheiro para Batista, Guimarães disse ter levado um tapa na orelha esquerda do religioso quando respondeu não saber o paradeiro do ex-interno da Febem. O religioso foi procurado pela Folha ontem, mas não quis se manifestar.
O faxineiro afirmou também que o padre parecia dar o dinheiro a Batista "porque queria". Ao ser questionado se a extorsão ocorria porque Batista e Conceição ameaçavam denunciar um suposto abuso do padre contra um dos filhos dela, disse não saber nada.
Guimarães afirmou ter aconselhado o padre em uma das vezes em que foi buscar dinheiro e disse que "ele deveria tentar se livrar daquilo" [a entrega de dinheiro]. O padre, segundo o faxineiro, havia pedido para Anderson "dar um tempo". "Eu nunca fiquei com um só centavo do padre e ele sabe disso."
Guimarães disse ontem que, quando foi preso, em setembro, foi espancado por três policiais dentro da sede do 81º DP (Belém), para onde foi levado após ser flagrado ao pegar um envelope com R$ 2.000 das mãos do padre. Disse ter recebido socos no peito e que assinou seu depoimento "sem ler".
Ontem, o delegado André Luiz Pimentel disse que irá interrogar Guimarães para tentar saber mais sobre a suposta tortura. (ANDRÉ CARAMANTE)


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