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Para preso, padre Júlio não praticou pedofilia
"Ele é um homem de Deus", diz único preso pela suposta extorsão contra o religioso
Everson dos Santos Guimarães também disse que foi espancado por policiais quando foi preso e que recebeu tapa do padre
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Everson dos Santos Guimarães, algemado, durante entrevista realizada ontem na penitenciária |
DA REPORTAGEM LOCAL
Única pessoa presa até agora
sob acusação de extorquir o padre Júlio Lancelotti, 58, o faxineiro Everson dos Santos Guimarães disse ontem à Folha,
no CDP (Centro de Detenção
Provisória) 1 do Belém (zona
leste de SP), que "nunca viu nenhuma ação que indicasse" que
o religioso praticou corrupção
de menores ou pedofilia, como
a polícia diz investigar agora.
"Ele é um homem de Deus",
disse Guimarães, preso desde 6
de setembro acusado de ajudar
o ex-interno da Febem (atual
Fundação Casa) Anderson
Marcos Batista, 25, e sua mulher, Conceição Eletério, 44, a
extorquir mais de R$ 80 mil do
padre nos últimos três anos.
Assim como Evandro, 28, irmão de Guimarães, o casal é
procurado pela polícia.
Com as mãos algemadas para
trás e na sala do diretor do CDP
1 do Belém, Guimarães afirmou
que, entre junho e setembro
(quando foi preso), e a mando
de Batista, buscou ao menos
cinco vezes envelopes com
grandes quantias de dinheiro
nos locais em que o ex-interno
da Febem pedia para ele encontrar o religioso.
"Era sempre muito dinheiro.
Dava para perceber por causa
do volume. Teve vezes em que
ele dava R$ 15 mil, R$ 30 mil. A
única vez que veio menos dinheiro foi a última, quando fui
preso, e tinha R$ 2.000", disse
Guimarães, que era faxineiro
na pensão arrendada por Batista na zona leste de São Paulo. O
dinheiro era sempre dividido
em maços de R$ 1.000.
Guimarães disse que o padre
ia atrás de Batista "quase que
todos os dias" e que quando o
religioso não o localizava "ficava nervoso" "Quando ele [Lancelotti] não ia lá na pensão, ele
ligava para saber dele [Batista].
Ele vivia atrás do Anderson."
Em uma das vezes em que foi
encontrar Lancelotti para buscar dinheiro para Batista, Guimarães disse ter levado um tapa na orelha esquerda do religioso quando respondeu não
saber o paradeiro do ex-interno da Febem. O religioso foi
procurado pela Folha ontem,
mas não quis se manifestar.
O faxineiro afirmou também
que o padre parecia dar o dinheiro a Batista "porque queria". Ao ser questionado se a
extorsão ocorria porque Batista e Conceição ameaçavam denunciar um suposto abuso do
padre contra um dos filhos dela, disse não saber nada.
Guimarães afirmou ter aconselhado o padre em uma das
vezes em que foi buscar dinheiro e disse que "ele deveria tentar se livrar daquilo" [a entrega
de dinheiro]. O padre, segundo
o faxineiro, havia pedido para
Anderson "dar um tempo". "Eu
nunca fiquei com um só centavo do padre e ele sabe disso."
Guimarães disse ontem que,
quando foi preso, em setembro, foi espancado por três policiais dentro da sede do 81º DP
(Belém), para onde foi levado
após ser flagrado ao pegar um
envelope com R$ 2.000 das
mãos do padre. Disse ter recebido socos no peito e que assinou seu depoimento "sem ler".
Ontem, o delegado André
Luiz Pimentel disse que irá interrogar Guimarães para tentar saber mais sobre a suposta
tortura.
(ANDRÉ CARAMANTE)
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