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Obras da BR-101 inutilizam sítio arqueológico em SC
Duplicação de rodovia já revelou 142 áreas para estudo; maior parte foi achada no Nordeste, principalmente em PE
No Nordeste destacam-se louças inglesas do século 19; questionamentos sobre o custo atrasaram proteção
CÍNTIA ACAYABA
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
As obras de duplicação da rodovia BR-101, que vai do Rio
Grande do Norte ao Rio Grande
do Sul, já revelaram 142 sítios
arqueológicos, mas também levaram à destruição parcial ou
total de algumas unidades,
principalmente no Sul, de acordo com dados do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional). As peças
encontradas ajudam a contar a
pré-história e a história colonial e independente do Brasil.
Em Santa Catarina, os sítios
são, em sua maioria, sambaquis
-registros de indígenas e
acampamentos de pescadores
formados por amontoados de
conchas de moluscos, peixes e
crustáceos. No Rio Grande do
Sul nos principais locais foram
achadas cerâmicas indígenas.
No Nordeste, destacam-se as
peças do século 19.
"O que mais encontramos
são louças de origem inglesa,
em especial a "shell edge", que é
mais popular, embora importada, e a "flow blue", que é uma
louça mais fina. Esse material
deve ter pertencido a famílias
do local onde está sendo duplicada a rodovia", afirma Marcos
Albuquerque, coordenador do
Laboratório de Arqueologia da
UFPE (Universidade Federal
de Pernambuco).
De acordo com ele, as louças
revelam o intenso comércio
que existiu entre o Nordeste
brasileiro e a Inglaterra.
Levantamento feito pela Folha mostra que a maior parte
do material achado até agora
está no Nordeste. Em Pernambuco, são 66 locais descobertos
às margens da rodovia no ano.
A Paraíba teve 16 sítios arqueológicos identificados após
o início do projeto de salvamento, em dezembro. No Rio
Grande do Norte foram nove
achados.
Destruição
No Sul, as obras de duplicação revelaram 37 sítios em Santa Catarina -13 estão justamente no trecho a ser pavimentado. Desses, nove sofreram danos irreparáveis pelas máquinas. Um ficou totalmente destruído em razão das obras.
No Rio Grande do Sul, 14 locais já estão catalogados.
Sítios arqueológicos são considerados bens culturais imóveis e protegidos pela legislação
nacional. Há cerca de 12 mil no
país cadastrados no Iphan.
Na construção da BR, nos
anos 1970, houve vários achados arqueológicos, mas muitos
acabaram perdidos. Hoje, graças à lei que exige a presença de
equipe arqueológica em obras
de grande porte, sítios em risco
iminente podem acabar salvos.
Em alguns casos, houve
preocupação em identificar
vestígios antes de a obra ter início. No Rio Grande do Sul, por
exemplo, o trabalho de salvamento foi feito de 1999 a 2002.
Santa Catarina é a exceção. O
projeto de salvamento foi aprovado apenas neste mês, após
vários sítios terem sido danificados. Custará R$ 3,1 milhões.
No ano passado, o Dnit (órgão federal de rodovias) justificou a não-aprovação até então
do projeto por considerar o valor apresentado pelo arqueólogo (R$ 2,9 milhões) "muito alto". "Um projeto como esse
nunca chega a afetar o custo.
Não ultrapassa 1% dele", afirma
Dalmo Vieira Filho, diretor do
Departamento de Patrimônio
Material e Fiscalização do
Iphan e superintendente do órgão em Santa Catarina.
Segundo o Dnit, no Rio de Janeiro, outro Estado onde a rodovia está sendo duplicada, as
obras ainda estão em estágio
inicial e até agora nenhuma
equipe para cuidar da parte de
arqueologia foi contratada.
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