São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Obras da BR-101 inutilizam sítio arqueológico em SC

Duplicação de rodovia já revelou 142 áreas para estudo; maior parte foi achada no Nordeste, principalmente em PE

No Nordeste destacam-se louças inglesas do século 19; questionamentos sobre o custo atrasaram proteção

CÍNTIA ACAYABA
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

As obras de duplicação da rodovia BR-101, que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, já revelaram 142 sítios arqueológicos, mas também levaram à destruição parcial ou total de algumas unidades, principalmente no Sul, de acordo com dados do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). As peças encontradas ajudam a contar a pré-história e a história colonial e independente do Brasil.
Em Santa Catarina, os sítios são, em sua maioria, sambaquis -registros de indígenas e acampamentos de pescadores formados por amontoados de conchas de moluscos, peixes e crustáceos. No Rio Grande do Sul nos principais locais foram achadas cerâmicas indígenas. No Nordeste, destacam-se as peças do século 19.
"O que mais encontramos são louças de origem inglesa, em especial a "shell edge", que é mais popular, embora importada, e a "flow blue", que é uma louça mais fina. Esse material deve ter pertencido a famílias do local onde está sendo duplicada a rodovia", afirma Marcos Albuquerque, coordenador do Laboratório de Arqueologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
De acordo com ele, as louças revelam o intenso comércio que existiu entre o Nordeste brasileiro e a Inglaterra.
Levantamento feito pela Folha mostra que a maior parte do material achado até agora está no Nordeste. Em Pernambuco, são 66 locais descobertos às margens da rodovia no ano.
A Paraíba teve 16 sítios arqueológicos identificados após o início do projeto de salvamento, em dezembro. No Rio Grande do Norte foram nove achados.

Destruição
No Sul, as obras de duplicação revelaram 37 sítios em Santa Catarina -13 estão justamente no trecho a ser pavimentado. Desses, nove sofreram danos irreparáveis pelas máquinas. Um ficou totalmente destruído em razão das obras.
No Rio Grande do Sul, 14 locais já estão catalogados.
Sítios arqueológicos são considerados bens culturais imóveis e protegidos pela legislação nacional. Há cerca de 12 mil no país cadastrados no Iphan.
Na construção da BR, nos anos 1970, houve vários achados arqueológicos, mas muitos acabaram perdidos. Hoje, graças à lei que exige a presença de equipe arqueológica em obras de grande porte, sítios em risco iminente podem acabar salvos.
Em alguns casos, houve preocupação em identificar vestígios antes de a obra ter início. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o trabalho de salvamento foi feito de 1999 a 2002.
Santa Catarina é a exceção. O projeto de salvamento foi aprovado apenas neste mês, após vários sítios terem sido danificados. Custará R$ 3,1 milhões.
No ano passado, o Dnit (órgão federal de rodovias) justificou a não-aprovação até então do projeto por considerar o valor apresentado pelo arqueólogo (R$ 2,9 milhões) "muito alto". "Um projeto como esse nunca chega a afetar o custo. Não ultrapassa 1% dele", afirma Dalmo Vieira Filho, diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan e superintendente do órgão em Santa Catarina.
Segundo o Dnit, no Rio de Janeiro, outro Estado onde a rodovia está sendo duplicada, as obras ainda estão em estágio inicial e até agora nenhuma equipe para cuidar da parte de arqueologia foi contratada.


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