São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Lula troca o comando do espaço aéreo

COTIDIANO Crise faz presidente exonerar o diretor-geral e o vice-diretor do Decea; Waldir Pires diz que mudança faz parte da rotina

O tenente-brigadeiro-do-ar Vilarinho, um dos exonerados, ordenou o aquartelamento dos controladores de vôo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Caiu o comando do Decea (Departamento do Controle de Espaço Aéreo). Por conta da crise aberta entre a Aeronáutica e os controladores de vôo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a demissão do diretor-geral do Decea, tenente-brigadeiro-do-ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho, e do vice-diretor do órgão, major-brigadeiro-do-ar Ailton dos Santos Pohlmann.
As exonerações foram publicadas no "Diário Oficial" da União na última sexta-feira. No mesmo dia, Lula nomeou para comandar o Decea o major-brigadeiro-do-ar Paulo Hortênsio Albuquerque e Silva, que até então estava à frente do Terceiro Comando Aéreo Regional.
Procurado pela Folha, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, não quis comentar as mudanças. Já o ministro da Defesa, Waldir Pires, negou ontem que o afastamento seja resultado da crise no setor. "É uma medida de rotina", disse.
O estopim da crise instalada entre os controladores e a Aeronáutica foi o acidente com o Boeing da Gol, que levou à morte dos 154 passageiros e tripulantes em 29 de setembro. O conflito se acirrou com a operação-padrão dos servidores, em sua maioria militares, que tem provocado sucessivos atrasos nos vôos e conseqüentes tumultos nos aeroportos.
Irritado com a situação, Vilarinho chegou a dar ordem para o aquartelamento dos controladores militares nos feriados de Finados e da Proclamação da República. Em demonstração de força, durante o segundo aquartelamento, os controladores intensificaram a operação-padrão, o que levou a Aeronáutica a suspender a ordem.
Contou para o acirramento da crise também as declarações de Vilarinho de que não existe "zona cega" no sistema de controle do tráfego aéreo, como alegaram os controladores responsáveis pelo acompanhamento da rota do boeing da Gol e do Legacy, no trajeto que levou à colisão das aeronaves.
Ouvidos pela Polícia Federal nos últimos dias, 13 controladores de vôo de São José dos Campos, local de decolagem do Legacy, e de Brasília, onde aterrissaria o Boeing, citaram um "buraco negro" na região amazônica, que foge ao controle do sistema usado pelo Decea.
Para a PF, houve "alguns" erros dos controladores. Quanto ao "buraco negro", um laudo técnico irá verificar se isso existe ou não.
A possível falha humana levou o governo a destacar uma equipe de advogados para acompanhar a investigação policial. Eles estão se preparando para, em caso de comprovado o erro humano, atuar em eventuais ações de indenização que os familiares das vítimas devem apresentar contra a União.
Historicamente, os controladores reclamam da carga horária excessiva de trabalho para uma atividade de tamanha responsabilidade e tensão.
Estão em atividade atualmente 500 operadores civis e 2.500 militares. Segundo a associação da categoria, seriam necessários mais 500 controladores para dar conta do setor.
Os operadores de vôo também defendem que a atividade passe para a esfera civil, o que poderia facilitar aumento para os salários que hoje estão na casa dos R$ 2 mil.


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