São Paulo, sexta, 27 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo foi alertado há dois meses para o risco do fogo em Roraima
Jogo de empurra alimentou o incêndio

LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília

Há dois meses, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de Roraima começou a alertar para os riscos das queimadas na região.
No entanto, somente na semana passada o governo iniciou uma operação de emergência -envolvendo vários órgãos federais- para combater as queimadas. A demora contribuiu para que o fogo se transformasse em incêndios fora de controle.
Documento do Ibama obtido pela Folha comprova que o pessoal do órgão em Roraima iniciou o alerta no dia 28 de janeiro, com um fax encaminhado à Diretoria de Controle e Fiscalização "pedindo recursos para execução de trabalhos de fiscalização de queimadas".
Um dia depois, a superintendência de Roraima proibiu queimadas na região. A partir daí, prosseguiu com o trabalho rotineiro de fiscalização, sem um suporte extra de outros órgãos do governo federal.
De acordo com que apurou a reportagem, uma das críticas internas feitas pelo comando da operação de combate ao fogo em Roraima é justamente a falta de ação no momento em que começaram os alertas dos órgãos de fiscalização.
Na semana passada, um dia depois de o Ibama ter anunciado que seriam necessários 920 bombeiros especializados na área, a Secretaria de Políticas Regionais -até então responsável pelo comando da operação- calculava que entre 700 e 800 homens seriam suficientes.
Hoje, sabe-se que a avaliação do Ibama estava mais perto da realizada. O número de bombeiros florestais que já estão na área ou estão a caminho chega a 1.100.
Comando político
Ontem, durante solenidade sobre o plano do governo para combate à desertificação, o ministro Gustavo Krause (Meio Ambiente) fez um desabafo sobre as críticas que sua pasta recebe, sem citar explicitamente o caso de Roraima.
'Ò Ministério de Meio Ambiente é normativo. Os parâmetros de cobrança são equivocados", disse o ministro. Depois, negou-se a falar com os jornalistas sobre o megaincêndio de Roraima.
A falta de comando político foi uma das razões que fizeram o Palácio do Planalto tirar o comando da operação da Secretaria de Políticas Regionais e passá-la para o Exército.
Agora, o governo vai tentar unificar as áreas responsáveis pela identificação de problemas ambientais com uma força de combate a incêndios sob o comando único das Forças Armadas.
A Folha ligou duas vezes para a assessoria de imprensa da Secretaria de Políticas Regionais e deixou recado. Até às 19h de ontem, não recebeu resposta.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.