São Paulo, terça, 27 de maio de 1997.



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DIA DE FÚRIA
Segundo testemunha, comerciante que matou pelo menos 14 no RN pretendia ver notícias sobre seus crimes na TV
Matador queria ser comparado a Rambo

FÁBIO GUIBU
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Macaíba (RN)

O comerciante Genildo Ferreira de França, 27, desejava que os assassinatos que cometeu fossem comparados às matanças promovidas pelo personagem Rambo, nos filmes interpretados pelo ator Sylvester Stallone.
Na semana passada, França matou pelo menos 14 pessoas em 22 horas, no distrito de Santo Antonio do Potengi, em São Gonçalo do Amarante (RN). Segundo a garota V.R.S., 16, que presenciou os crimes, havia três meses o comerciante dizia que, quando fosse se vingar dos que julgava seus inimigos, agiria "como o Rambo".
"Ele matava e perguntava se eu não estava me sentindo como se estivesse num daqueles filmes de luta que passavam na TV."
O ceramista Francisco de Assis Ramos dos Santos, acusado de ajudar França em pelo menos cinco homicídios, afirmou que, além de fã de Rambo, o comerciante assistia a todos os filmes do ator Jean-Claude Van Damme.
No dia do crime, França saiu de casa com botas de cano longo, bermuda, colete com estampa de camuflagem e boné. No peito, carregava uma faca de caça e cartucheiras. Em uma bolsa de náilon, levava a pistola 7,65mm e o revólver calibre 38, com silenciador.
Segundo V.R.S., o comerciante -assim como o personagem de Stallone- cruzava os braços antes de atirar e exibia o revólver e a pistola, erguendo-os na altura dos ombros. V.R.S. disse que França comentou como seria a repercussão dos crimes na imprensa. "Ele dizia: 'Nós vamos ser famosos, vamos aparecer no país todo."'
Na manhã de quinta, após matar sua última vítima, disse a garota, o comerciante queria fugir para o distrito de Coqueiros, onde pretendia chegar a tempo de assistir à repercussão dos crimes no noticiário da TV. Antes de chegar ao distrito, o comerciante foi cercado pela polícia num matagal e morto.
"O sonho dele era ser entrevistado pelo J. Gomes, no programa 'Patrulha Policial' (exibido pela TV Ponta Negra, retransmissora do SBT) para dizer que não era boiola (homossexual)", disse V.R.S.. Segundo ela, o comerciante não a matou porque a escolheu para testemunhar as mortes e depois contar como tudo aconteceu.
"Foi por isso que ele mandou que eu escrevesse aquela carta que ficou em cima do corpo da mulher dele, a Mônica", afirmou.
Na carta, França pede ao repórter J. Gomes -Josimar Gomes da Silva- que "divulgue para o público" seu "conselho" de "não levantar falsos do seu próximo".
Gomes da Silva estava de férias quando aconteceram os crimes. Ele interrompeu suas férias na quinta para ler a carta de França. "Fiquei envaidecido. Eu o teria entrevistado com o maior prazer."



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