São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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No Rio, doente é preso após agressão

DA REPORTAGEM LOCAL

No início de janeiro, o cunhado de Valéria Magalhães Vieira Souza, 39, sofreu uma crise por não obter remédios básicos para o tratamento da esquizofrenia. A falta de medicamentos, banal em postos de saúde de todo o país, tornou-se um caso de polícia.
"Tentamos levar ao hospital, chamamos a Defesa Civil, não conseguimos ajudar. Ele correu para a rua, com uma bucha com álcool na mão, jogou no vizinho e acendeu o isqueiro", conta Souza, que abrigava o cunhado em sua casa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio. "É um problema sério. Ninguém toma responsabilidade. Ele acabou preso." O vizinho teve sérias queimaduras, relata, e até hoje necessita de plásticas.
O cunhado toma três remédios por dia, com os quais a família gasta quase R$ 100 por mês, por não encontrá-los na rede pública.
"Vivo com meus problemas e os dos outros", afirma Lidia Moreno, 52, que representa familiares de pacientes da Baixada Fluminense. Moreno "centraliza" pedidos das famílias de pacientes da região, como a de Souza. Na prática, coleciona casos, por não haver solução para grande parte deles. Há dias em que busca pelo bairro um comprimido "emprestado" para alguém sem remédio. "Virei uma ONG ambulante."
A preocupação mais recente é com relatos de ameaças, feitas por traficantes, a doente mentais. As crises, que deveriam ser atendidas por um serviço médico, acabam trazendo a polícia para as favelas, o que desagrada os donos dos pontos de droga.
Sobre o caso do paciente que acabou preso, Moreno se declara revoltada. "A culpa é dele ou dos governos, que não dão os medicamentos?" (FL)


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