São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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Fiscais retêm aparelho para calibrar mamógrafos

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Aparelhos que vão possibilitar mais precisão no resultado de exames de câncer de mama estão há seis semanas retidos na Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) por causa do atraso na liberação pela Receita Federal.
Os equipamentos foram doados pela ONU (Organização das Nações Unidas) ao Laboratório de Metrologia em Mamografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Um detector de radiação custa US$ 30 mil.
A demora na liberação é consequência da greve da Receita, que aconteceu de maio até o início de julho, quando os fiscais começaram a fazer o que chamam de "operação padrão".
"Fiscalizamos tão rigorosamente o que chega no país que o trabalho fica quase paralisado", reconheceu o diretor da Delegacia Sindical do Rio de Janeiro do Unafisco (sindicato dos fiscais da Receita), Alexandre Teixeira.
Segundo ele, apenas remédios, alimentos e animais vivos são liberados com rapidez.
O laboratório da universidade, o primeiro da América Latina que terá os equipamentos -utilizados para ajustar os mamógrafos de acordo com os padrões da Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU-, seria inaugurado em setembro.
"Agora não sei mais, porque, depois de liberados, preciso de 30 a 40 dias para montar os equipamentos. Além disso, nem sei o quanto terei de pagar à Infraero pela armazenagem", afirmou o coordenador do laboratório, o físico Carlos Eduardo de Almeida.
Além do detector de radiação, estão armazenados no galpão da Infraero (Ilha do Governador, zona norte) vários softwares e aparelhos acessórios.
Segundo ele, com os equipamentos será possível medir e ajustar a radiação que sai dos mamógrafos. Quando ela é mais alta, a imagem escurece. Quando é mais baixa, ela fica clara demais.
No Brasil, segundo dados do Colégio Brasileiro de Radiologia, cerca de 15% das mamografias dão falso resultado negativo. O falso positivo gira em torno de 3% a 5% -quadro correspondente à margem de erro adotada internacionalmente.
"Nos dois casos, o diagnóstico fica prejudicado, e o médico pode não ver o tumor. A imagem da mamografia deve ser muito bem formada para que o profissional veja a menor das calcificações e possa tratar o câncer o quanto antes", afirmou Almeida.
No Brasil, há cerca de 3.000 mamógrafos. Almeida estima que pelo menos 30% deles não estejam ajustados perfeitamente.
"O laboratório é fruto de um estudo preliminar que fizemos no Rio. Avaliamos quase 30 mamógrafos. Metade deles tinha problemas. Fizemos um projeto, que foi aprovado e patrocinado pela Agência Internacional", afirmou.
O físico disse que, no início, o serviço será oferecido apenas para hospitais da rede pública do Estado do Rio. "No ano que vem, já queremos prestar serviços para clínicas particulares e depois para todo o Brasil", disse.

Importância do exame
Os dados que mostram a imprecisão dos exames não anulam a importância da mamografia na luta contra o câncer.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Ezio Novais Dias, ela ainda é a melhor arma para a detecção do câncer de mama -o tipo da que mata mais mulheres.
"Hoje, o ultra-som é usado como máquina de apoio. É fundamental que as mulheres com mais de 40 anos façam anualmente o exame", disse ele.



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