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Senha libera o acesso da polícia a dado telefônico
Para Ministério Público, medida não tem base legal e fere o sigilo constitucional
Para juiz, sistema possibilita que investigação seja feita com mais rapidez; o nome, o endereço e o CPF do dono
do telefone são liberados
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça distribuiu para a
polícia paulista mais de 60 senhas pessoais que permitem o
acesso a dados cadastrais de
clientes das operadoras de telefonia. Com a chamada senha
genérica, que tem validade média de quatro meses, delegados
e oficiais da Polícia Militar não
precisam mais informar previamente a juízes e promotores
o que estão investigando e os
nomes dos suspeitos para conseguir esses dados.
As senhas foram concedidas
pelo juiz-corregedor do Dipo
(Departamento de Inquéritos
Policiais), Alex Tadeu Monteiro Zilenovski. Ele afirma que o
sistema resulta em rapidez para as investigações.
O acesso é restrito a dados
cadastrais: números de telefone fixo e de celular, endereços,
dados documentais como identidade e CPF. A senha não autoriza a liberação do histórico de
chamadas ou escutas, que seguem o trâmite tradicional.
Mas a restrição da senha pode não ser obedecida por policiais e funcionários de operadoras. O Gecep (Grupo de
Atuação Especial de Controle
Externo da Atividade Policial),
do Ministério Público, já identificou pelo menos um caso em
que um policial civil recebeu
dados do histórico de chamadas de uma pessoa monitorada.
A medida polêmica é contestada pela Promotoria, que
abriu investigação. Para o Gecep, a senha genérica não tem
base legal e fere o princípio
constitucional do sigilo de dados pessoais. Além disso, para o
grupo, a falta de análise prévia
da investigação dá margem a
abusos porque não permite
controle eficiente do trabalho
policial pelo Poder Judiciário.
Pelo trâmite tradicional, para conseguir o acesso aos dados
telefônicos, a polícia precisa relatar à Justiça a investigação e
identificar os suspeitos monitorados. O pedido é também
analisado pela Promotoria. Somente depois disso o juiz autoriza ou não a solicitação.
Com a senha, o policial pede
as informações diretamente à
operadora. No final da validade
da senha, o policial encaminha
um relatório para o Dipo informando como usou o código.
"Não queremos impedir o
acesso às informações, mas
permitir isso sem uma análise
prévia significa dar carta branca à polícia sem nenhum amparo legal", diz a promotora Marcia de Holanda Montenegro.
O Gecep já pediu ao Dipo o
fim das senhas genéricas, o que
foi negado. O grupo estuda entrar com mandado de segurança no Tribunal de Justiça.
Juiz
O juiz-corregedor do Dipo,
responsável por fiscalizar a atividade da polícia, afirma que
não criou a senha genérica. Ela
já era concedida para policiais
civis desde 2005. Zilenovski estendeu o prazo de validade para
quatro meses. Hoje, policiais
civis de departamentos especializados (anti-seqüestro, narcóticos e inteligência) têm senha. O juiz também concedeu
códigos para policiais militares.
Segundo ele, o comandante-geral da PM, coronel Elizeu
Eclair, esteve em seu gabinete,
com outros oficiais, para fazer o
pedido de senha. "São dados cadastrais. Entendo que não há
quebra de sigilo previsto pela
Constituição", afirma o juiz. "A
instituição polícia tem de ser
respeitada, ainda mais no momento em que vivemos. Não
podemos amarrar as mãos da
polícia", afirmou. Segundo ele,
as informações do relatório enviado ao Dipo pelo policial são
confrontadas com os relatórios
das operadoras.
Zilenovski defende, inclusive, que o mesmo sistema de senha seja criado no sistema bancário. Na semana passada, ele
encaminhou ao Banco Central
um ofício solicitando informações sobre a viabilidade disso.
"Dependendo da resposta, analisarei a questão", disse.
A empresa de telefonia Vivo,
única citada no procedimento
do Gecep, disse que não poderia falar porque desconhece a
investigação. Mas salienta que
a medida teve autorização judicial. A Secretaria da Segurança
Pública não quis se pronunciar.
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