São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Cenário da tragédia, prédio da TAM ainda tem vestígios de escritório e cheiro de cinzas

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ainda cai muita água da laje sobre o andar térreo do prédio da TAM Express, em risco de desabamento desde o acidente do dia 17. Uma escova de dentes bóia em poças entre o entulho espalhado pelo chão; um pedaço de parede -que se deslocou quando o avião explodiu- esmaga mesas, cadeiras e um computador; uma janelinha da aeronave, ainda presa a restos de fuselagem, está amontoada a tijolos queimados.
O cenário da maior tragédia da aviação do país é hoje uma mistura de lama, cinzas e vestígios da anatomia típica de um escritório: pastinhas, fichários, canetas, galões de água de 20 litros. O cheiro enjoativo de cinzas permanece no ar e quem entra no local, mesmo que não toque em nada, fica com as mãos sujas de poeira preta em poucos minutos.
O prédio (dividido em três blocos ligados, de até quatro pavimentos cada) continua interditado e deverá se transformar em um memorial para as vítimas depois de demolido. Ontem, ele foi parcialmente aberto à imprensa. Era possível visitar parte do subsolo e do andar térreo, que foram atingidos apenas por pedaços do avião.
O risco da construção desabar preocupa os bombeiros: um pilar se deslocou cerca de dez centímetros nos últimos dois dias. As fissuras nas paredes também têm aumentado.
No meio das imagens de caos, pairam algumas mercadorias ainda inteiras, que estavam em salas menos atingidas pelo fogo: algumas caixas com envelopes e lotes de revistas.
Ao fundo do andar térreo, canteiros de folhagens restam verdejantes, com brotinhos de flores amarelas e vermelhas. Papéis em vermelho, com o logotipo da TAM, estão espalhados: alguns anunciam data de entrega-limite de encomendas: "18 de julho".
Também está inteira uma placa com os sete mandamentos da TAM ("1 Nada substitui o lucro"; "2 Em busca do ótimo não se faz o bom").
Paulo Roberto Zani, 39, funcionário do setor de informática, estava lá no dia do acidente. Diz que, apesar de quase ter perdido a vida, guarda boas lembranças do local. "Era bom de se trabalhar, organizado, com uma equipe enturmada."
Quando um funcionário fazia aniversário, os outros juntavam trocados para comprar bolo e desciam as escadas cantando "Parabéns a Você". Quando a Mega-Sena acumulava, alguns faziam "bolão" de apostas. Vez ou outra, os funcionários terminavam o dia em uma quadra de futebol da TAM. "Ou então alugavam uma para jogar bola", conta o motoboy Gerson Antônio Rocha Júnior, 33, outro sobrevivente da tragédia.

Fim dos trabalhos
As operações de busca terminaram ontem, de acordo com os bombeiros. Foram identificados 86 corpos de vítimas.


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