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Cenário da tragédia, prédio da TAM ainda tem vestígios de escritório e cheiro de cinzas
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ainda cai muita água da laje
sobre o andar térreo do prédio
da TAM Express, em risco de
desabamento desde o acidente
do dia 17. Uma escova de dentes
bóia em poças entre o entulho
espalhado pelo chão; um pedaço de parede -que se deslocou
quando o avião explodiu- esmaga mesas, cadeiras e um
computador; uma janelinha da
aeronave, ainda presa a restos
de fuselagem, está amontoada a
tijolos queimados.
O cenário da maior tragédia
da aviação do país é hoje uma
mistura de lama, cinzas e vestígios da anatomia típica de um
escritório: pastinhas, fichários,
canetas, galões de água de 20 litros. O cheiro enjoativo de cinzas permanece no ar e quem
entra no local, mesmo que não
toque em nada, fica com as
mãos sujas de poeira preta em
poucos minutos.
O prédio (dividido em três
blocos ligados, de até quatro
pavimentos cada) continua interditado e deverá se transformar em um memorial para as
vítimas depois de demolido.
Ontem, ele foi parcialmente
aberto à imprensa. Era possível
visitar parte do subsolo e do andar térreo, que foram atingidos
apenas por pedaços do avião.
O risco da construção desabar preocupa os bombeiros: um
pilar se deslocou cerca de dez
centímetros nos últimos dois
dias. As fissuras nas paredes
também têm aumentado.
No meio das imagens de caos,
pairam algumas mercadorias
ainda inteiras, que estavam em
salas menos atingidas pelo fogo: algumas caixas com envelopes e lotes de revistas.
Ao fundo do andar térreo,
canteiros de folhagens restam
verdejantes, com brotinhos de
flores amarelas e vermelhas.
Papéis em vermelho, com o logotipo da TAM, estão espalhados: alguns anunciam data de
entrega-limite de encomendas:
"18 de julho".
Também está inteira uma
placa com os sete mandamentos da TAM ("1 Nada substitui o
lucro"; "2 Em busca do ótimo
não se faz o bom").
Paulo Roberto Zani, 39, funcionário do setor de informática, estava lá no dia do acidente.
Diz que, apesar de quase ter
perdido a vida, guarda boas
lembranças do local. "Era bom
de se trabalhar, organizado,
com uma equipe enturmada."
Quando um funcionário fazia
aniversário, os outros juntavam trocados para comprar bolo e desciam as escadas cantando "Parabéns a Você". Quando
a Mega-Sena acumulava, alguns faziam "bolão" de apostas.
Vez ou outra, os funcionários
terminavam o dia em uma quadra de futebol da TAM. "Ou então alugavam uma para jogar
bola", conta o motoboy Gerson
Antônio Rocha Júnior, 33, outro sobrevivente da tragédia.
Fim dos trabalhos
As operações de busca terminaram ontem, de acordo com
os bombeiros. Foram identificados 86 corpos de vítimas.
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