São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2007

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Ciclo de expansão das cooperativas preocupa ministro

José Gomes Temporão (Saúde) diz que é preciso criar política salarial para evitar a evasão de médicos do setor público

Solução para crise no setor também depende de novos modelos de gestão e garantia constitucional de mais verbas para saúde, diz

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, considera preocupante a expansão das cooperativas médicas, mas não a vê como uma questão generalizada no SUS. Para ele, a solução passa por política salarial adequada que permita aos profissionais ter melhores salários e condições de trabalho.
Na sua opinião, a mudança passa pelo novo sistema de gestão -a criação de uma fundação de direito privado-, que a sua pasta encaminhou ao Congresso no mês passado. A seguir, leia trechos da entrevista dada à Folha na última quarta. (CLÁUDIA COLLUCCI)  

FOLHA - Há perigo de o apagão ocorrido em Alagoas se espalhar?
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
- Gostaria de começar já discordando do termo apagão, porque traz uma conceituação política complexa. Não há um apagão.

FOLHA - Ministro, estou falando especificamente de Alagoas...
TEMPORÃO
- Em Alagoas, temos uma greve de parte dos médicos [na ocasião da entrevista, a greve não havia terminado], não de todos. É uma realidade complexa porque envolve aspectos relacionados ao financiamento, daí a importância de caminharmos para regulamentação da emenda 29, porque muitos Estados não colocam o que a Constituição determina em saúde, que são os 12% da sua receita. Isso traria cerca de R$ 5 bilhões a mais. Por outro lado, há um evidente problema de gestão. O governo mandou para o Congresso a proposta de uma fundação estatal de direito privado, que é de fundamental importância para melhorar a gestão do serviço público.
Se a gente somar o orçamento do Ministério da Saúde neste ano com o que os Estados e municípios vão gastar no SUS, vamos ter R$ 80 bilhões para cobrir 190 milhões de brasileiros. Enquanto isso, o setor suplementar, que cobre 40 milhões de brasileiros, vai gastar R$ 40 bilhões. A diferença é gritante.

FOLHA - Uma crítica que se faz às fundações é que não adianta um novo modelo de gestão se não mudar o financiamento. As duas situações não têm que andar juntas?
TEMPORÃO
- São duas coisas totalmente distintas. O modelo de gestão da fundação inova porque introduz uma série de princípios que hoje estão fora da administração direta, como a profissionalização da gestão, a contratualização e os contratos de trabalho pela CLT. É claro que a mudança de gestão por si só não vai resolver todos os problemas do sistema, mas vai melhorar muito a qualidade.
Hoje falta uma postura dos trabalhadores da saúde pública de que eles estão ali para resolver o problema das pessoas. É como se cada cidadão que procura ajuda no serviço de saúde fosse um problema. Tenho que me livrar desse cidadão porque é muito complicado atendê-lo. É necessária uma mudança cultural profunda da maneira como as pessoas atendem no SUS.
Essa mudança está prevista dentro do novo modelo.

FOLHA - Tem aumentado nos últimos anos o número de médicos vinculados a cooperativas. Qual o impacto disso no SUS?
TEMPORÃO
- É um problema, não é uma questão generalizada ainda, mas é preocupante. Muitas vezes, levados pelos baixos salários na administração pública, os médicos se demitem, se organizam sob vários arranjos e vendem sua força de trabalho através de entidades privadas. A solução passa por uma política salarial adequada.
Afinal, o médico investe muito em qualificação, estuda nove anos, se considerar a residência, é uma profissão extremamente relevante, mas que hoje, pelos salários que vi em Alagoas, de médicos ganhando R$ 1.200 por mês, estão abaixo de qualquer possibilidade.

FOLHA - Médicos falam ainda de uma total falta de estrutura nos hospitais, que pode colocar vidas em risco. O que o governo pretende fazer?
TEMPORÃO
- Os hospitais universitários possuem problemas estruturais graves. Os filantrópicos, que representam 45% das internações no SUS e 25% das consultas, também passam por situação estrutural grave.
Precisamos ter uma política de reequipamento e reestruturação física e tecnológica tanto de hospitais públicos como dos filantrópicos. Estamos trabalhando numa nova proposta, em várias dimensões, com promoção à saúde, assistência médica hospitalar e gestão. Ela será encaminhada ao presidente.


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