São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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Presos 15 doleiros acusados de ajudar facção

Segundo a PF, suspeitos trocavam reais por dólares e euros a fim de dificultar o rastreamento de movimentação financeira do PCC

Suspeitos também ajudavam comerciantes da região da rua 25 de Março, em SP, a trazer produtos irregulares da China, aponta polícia


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem 15 doleiros (dez em São Paulo, quatro em Minas Gerais e um no Rio de Janeiro) sob a suspeita de que eles negociam dólares e euros com integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), comerciantes chineses da região da rua 25 de Março (centro de SP) e também com nigerianos clandestinos no Brasil.
A PF ainda cumpriu 50 mandados de busca e apreensão na chamada Operação Downtown e apreendeu cerca de R$ 1,2 milhão. Os locais onde ocorreram as ações, muitos deles agências de turismo e de câmbio no centro de São Paulo, e as identificações dos 15 presos não foram revelados pela PF sob a alegação de que isso atrapalharia as investigações.
A Operação Downtown começou há seis meses, quando a PF monitorava transações dos doleiros, principalmente pagamentos de produtos contrabandeados da China para lojas da região da rua 25 de Março e remessas para a África do Sul feitas por nigerianos -alguns deles suspeitos de tráfico internacional de drogas- que vivem na área central de SP.
O lucro em reais obtido pelos chineses com a venda das mercadorias contrabandeadas também era convertido em moeda estrangeira e enviado pelos doleiros para a China.

Negócios nas cadeias
Escutas telefônicas autorizadas judicialmente flagraram membros do PCC -a maior parte deles na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 620 km de SP, e onde estão aqueles tidos pela polícia e Promotoria como chefes do grupo, e em um presídio da Grande SP- na movimentação financeira para trocar reais obtidos em crimes como tráfico e roubo por dólares e euros nas casas de câmbio.
De acordo com o delegado federal José Alberto Iegas, da Dercor (Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado), ao trocar reais por dólares e euros, os criminosos do PCC queriam dificultar o rastreamento de suas movimentações financeiras por parte da polícia.
Durante a investigação, a PF descobriu que os chefes do PCC também abasteciam os doleiros com dinheiro originário do "bicho-papão", uma espécie de imposto cobrado pela facção criminosa de seus integrantes.
Hoje, para ter a proteção e ajuda da facção para cometer crimes no Estado de São Paulo, os chefes do grupo cobram taxa mensal de R$ 600 de seus filiados. O criminoso preso paga "bicho-papão" menor: de R$ 50 a R$ 100. Aquele que não dá dinheiro aos chefes do grupo criminoso fica sem proteção e, na maior parte dos casos, é ameaçado de morte.
Ao fazer a troca da moeda nacional pelas estrangeiras para os chefes do PCC, os doleiros tiravam suas comissões. Sempre em espécie, o dinheiro obtido pela facção criminosa era entregue aos doleiros por integrantes do grupo com cargo de "tesoureiro". Parentes de alguns chefes do PCC também faziam a troca de moedas.
Também para evitar chamar a atenção das autoridades, esse criminoso que atua como "tesoureiro" do PCC recebe salário médio mensal de R$ 6.000, tem direito a um carro e a moradia, tudo isso custeado pelos outros criminosos da facção.
Os doleiros presos são suspeitos de evasão de divisas, sonegação fiscal, descaminho (via importação fraudulenta), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.


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