São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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CRISE
Para empresários, motoristas e perueiros, parte da culpa por problemas é da incoerência da prefeitura
"Remendos" tumultuam transportes

da Reportagem Local

Não é só a falta de dinheiro que atrapalha e tumultua o transporte coletivo da cidade. Na opinião de empresários, motoristas de ônibus e perueiros, que passaram a última semana brigando por projetos que os beneficiavam ou prejudicavam, parte da culpa pelos transtornos é da falta de coerência da Prefeitura de São Paulo no trato do transporte coletivo da cidade.
Segundo os personagens dessa discussão, o descumprimento de acordos ou mudança de posição da prefeitura em relação ao setor foram os estopins de algumas paralisações de trabalhadores.
Os acontecimentos deste ano no setor dão algum respaldo a essa opinião. Pelo menos três paralisações de trabalhadores tiveram como motivo não a falta de pagamento, ou de vale-refeição, mas protestos contra medidas anunciadas que nunca foram adotadas. E a prefeitura já voltou atrás ou descumpriu o que prometera em pelo menos cinco ocasiões.
A última delas ocorreu em junho, na assinatura do aditivo com as empresas de ônibus que estabelecia um prazo para o pagamento da dívida da prefeitura com o setor, responsável por atrasos nos salários e seguidas greves.
Menos de um dia depois de ver aceito o acordo que ela mesma propôs, a prefeitura recuou, alegando que não tinha dinheiro para honrar o acordo.
De lá para cá, houve ao menos três grandes protestos de trabalhadores pressionando por salários atrasados em decorrência da não-quitação da dívida.
O vai-e-vem da prefeitura também atingiu os perueiros. No início do ano, a prefeitura dava mostras de querer acabar com a categoria. Em 12 de janeiro, lançou o vale-lotação, R$ 0,25 mais caro que o vale-transporte e que, por isso, dificilmente seria aceito pelos empregadores. Os perueiros ameaçaram se rebelar e, um dia depois, a prefeitura voltou atrás.
Em maio, porém, Pitta mudou de postura. Após obter apoio dos perueiros, que foram à Câmara manifestar-se contra seu impeachment, passou a declarar apoio à legalização do setor.
Naquele mesmo mês, porém, vetou projeto aprovado pela Câmara que garantia os perueiros. Até hoje, não fez aprovar nenhuma lei nesse sentido.
"Não dá para entender por que, se o prefeito é a favor, ainda não legalizou nossa categoria", diz o presidente do Sindicato dos Perueiros de São Paulo, José Célio dos Santos. "Essa forma de governar por remendos é assustadora", disse Antonio Sampaio, diretor jurídico do Transurb (sindicato das empresas de ônibus).


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