São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Demógrafa critica controle de natalidade

DO ENVIADO A CAXAMBU

A panamenha Carmem Miró, 85, uma das mais importantes demógrafas da América Latina, se mostrou surpresa ao saber que, no Brasil, o tema do controle da natalidade tinha voltado à tona.
Ela foi homenageada no 14º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, na semana passada, em Caxambu (MG).
Para a demógrafa, um governo que ainda discute esse tema está "atrasado", e é "ainda pior" que esse assunto tenha sido levantado por um integrante do governo Lula, porque "se supõe que, como esquerdista, ele respeite mais os direitos humanos".
Em janeiro, a secretária de Políticas para Mulheres do governo federal, Emília Fernandes, defendeu que o governo incluísse o planejamento familiar entre as contrapartidas do Bolsa Família.
Miró presidiu o Centro Latino-Americano de Demografia e, em 1991, recebeu o Prêmio Mundial de População da ONU. (AG)
 

Folha - No Brasil, voltou-se a discutir o controle da natalidade. Como a senhora viu isso?
Carmem Miró -
Um governo que ainda discute isso está atrasado. O que é preciso é atender as mulheres no sistema de saúde pública. Ela já não querem ter tantos filhos, e a lei não tem que se meter na vida privada de ninguém. É pior que isso esteja sendo discutido no governo Lula porque ele é esquerdista, e se supõe que respeite mais os direitos humanos.

Folha - Em todos os países ricos, a média de filhos por mulher é menor do que dois. Esse não seria um indicador de riqueza?
Miró -
Os países europeus estão tendo um grave problema com essa taxa, porque não têm força de trabalho suficiente e precisam importar trabalhadores. Eles têm ainda alta porcentagem de idosos, o que causa um peso muito grande sobre a economia. Os que acreditam que tendo menos filhos estarão melhor estão equivocados.

Folha - A América Latina não estaria menos pobre se a população tivesse crescido menos?
Miró -
Esse foi um evangelho que os norte-americanos distribuíram na América Latina. Diziam que era o crescimento populacional que impedia que a América Latina se desenvolvesse. No entanto, as taxas de natalidade diminuíram, mas a desigualdade persiste.

Texto Anterior: Garota engravida para sair de casa
Próximo Texto: Falta de diálogo pode ser causa do aumento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.