São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

DPOC afeta 7 milhões de brasileiros e é a quinta maior causa de morte no país; 90% das vítimas são fumantes

Doença pulmonar mata 30 mil por ano

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2000, dez ex-fumantes de São Paulo, vítimas de uma doença pulmonar crônica, resolveram criar uma associação dos portadores desse mal. Dois anos depois, cinco deles já morreram.
O que pode parecer uma tragédia vivida por um pequeno grupo, atinge na verdade 7 milhões de pessoas no Brasil. São os portadores de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), a quinta maior causa de morte no país, com 30 mil vítimas por ano.
A doença afeta 7 milhões de brasileiros, 90% fumantes. Só em 2001, a DPOC foi responsável pela internação de 230 mil pessoas, gerando gastos de R$ 100 milhões, segundo o Datasus.
A DPOC engloba a bronquite crônica e o enfisema pulmonar, e caracteriza-se pela falta de ar, pela tosse, pela diminuição da resistência física e pelo aumento da produção de catarro. Muitas vezes é confundida com a asma. Surge geralmente em pacientes acima de 50 anos que fumaram por um longo período.
A prevenção e as formas de tratar a doença tornaram-se uma das prioridades da OMS (Organização Mundial da Saúde) neste ano. Além de instituir a data de 20 de novembro como Dia Mundial de Prevenção à DPOC, a OMS criou um programa, chamado Gold, que pretende divulgar a doença em 72 países. Nos EUA, a campanha será estendida em 2003.
No Brasil, quatro pneumologistas, em parceria com 13 laboratórios, fazem parte do programa da ONU e estão ministrando palestras a médicos e ao público leigo. Pelo menos 11 mil profissionais já receberam manuais que orientam desde como reconhecer até como tratar a DOPC com medicamentos de última geração.
Segundo Júlio Cesar Abreu de Oliveira, 45, professor adjunto de pneumologia da Universidade de Juiz de Fora (MG), que faz parte do grupo de médicos que divulgam a doença, a DPOC ainda é subdiagnosticada no país porque falta informação entre os médicos e pacientes. "Muitas pessoas têm a doença e nem sabem disso. Pensam que a dificuldade de respiração faz parte da velhice", afirma.
De modo geral, os pacientes procuram o médico quando a dificuldade para respirar, ocasionada por uma perda grave da função pulmonar, já está interferindo na sua atividade diária normal.
Para Oliveira, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes no que diz respeito ao acesso a informações sobre os medicamentos mais potentes e às terapias de reabilitação pulmonar, essa ampla divulgação da doença vai possibilitar o diagnóstico precoce da DPOC.
"Quando tratada no início, a doença é reversível", afirma o médico José Roberto Jardim, 57, professor de pneumologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenador do Consenso Gold Brasil.
Jardim está dirigindo também um levantamento sobre o número de vítimas da DPOC na cidade de São Paulo. O objetivo é que 1.200 pessoas de todas as regiões da capital respondam a questionários.
Os entrevistados suspeitos de portarem a doença deverão ser submetidos a um exame chamado espirometria, que mede a capacidade respiratória dos pulmões. O estudo deve ficar pronto em seis meses.

Medicamento
Além da falta de informação, um outro problema enfrentado pelos pacientes é o preço da medicação, que não é fornecida pelo Ministério da Saúde.
O tratamento é contínuo, à base de broncodilatadores (que provocam a dilatação dos brônquios), de corticóides e da oxigenoterapia. Segundo os médicos, é fundamental abandonar o cigarro para obter êxito no tratamento.
Não só fumantes, mas também pessoas expostas a ambientes poluídos por gases, partículas tóxicas ou produtos químicos, como trabalhadores de indústrias químicas e de vidros, e até mesmo donas-de-casa que cozinham em fogão a lenha podem desenvolver a doença ao inalarem micropartículas tóxicas da fumaça, segundo o pneumologista Jardim.
Uma das consequências da DPOC é a internação frequente causada por episódios agudos de falta de ar, além de infecções pulmonares.


Texto Anterior: Segredos e ambição podem definir partida
Próximo Texto: Plantão médico: Estudo revela nova fronteira na medicina para o século 21
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.